São as chamadas “doenças da civilização”. Nas sociedades desenvolvidas, os hábitos de higiene e os cuidados de saúde tornaram-nos mais “irritáveis” por várias substâncias. O resultado é o aumento da incidência das doenças alérgicas .
É nas chamadas “populações civilizadas” que mais crescem todos os anos as alergias, o que está muito relacionado com os estilos de vida.
Nos Açores, foram já feitos dois estudos estatísticos com base em populações estudantis de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta. “Actualmente a taxa de prevalência de doenças alérgicas nos Açores anda à volta dos 15 por cento da população”, afirma Dias Pereira, director do serviço de Pneumologia do Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada.
Mas o que poderá estar a provocar esta incidência, cada vez maior, de doenças alérgicas? “Os nossos avós passavam 90 por cento do seu tempo em contacto com a natureza, enquanto que as pessoas da nossa geração vão passar 90 por cento do seu tempo em sítios fechados”, responde Dias Pereira.
Outro problema é a “esterilização” a que as crianças estão sujeitas hoje em dia. “Mesmo antes das crianças nascerem, as suas mães são observadas várias vezes, são vacinadas, tomam antibióticos… Depois de nascerem as crianças, é tudo esterilizado, tudo lavado e desinfectado e há muito cuidado com a comida, isto enquanto que noutras partes do mundo, as crianças ainda têm um contacto directo com a natureza e o seu sistema imunológico faz o que tem a fazer, aprendendo a viver com o exterior, o que não acontece com as crianças ‘esterilizadas’”, explica o médico.
Tudo isso leva a alterações imunológicas que originam o aumento das doenças alérgicas nos países mais desenvolvidos, incluindo Portugal. A taxa mundial oscilará entre os 12 e os 25 por cento de prevalência das doenças alérgicas e Portugal ainda está neste ranking num patamar baixo. Mas quais as doenças alérgicas mais frequentes? Nos primeiros anos de vida prevalece o eczema e a rinite alérgica. No geral, é a rinite alérgica a doença mais frequente, seguindo-se a asma brônquica e o eczema alérgico.
Terão os Açores características que possam potenciar as alergias? Dias Pereira responde afirmativamente. Os Açores têm uma temperatura muito uniforme ao longo do ano, com um grau também muito elevado de humidade, o que junta todos os factores necessários para o surgimento da alergia, por exemplo, ao pó doméstico.
No serviço de Pneumologia do Hospital do Divino Espírito Santo, que tem à volta de 700 a 800 internamentos por ano, cerca de 20 por cento dos seus doentes têm asma, seja nas consultas, nas urgências ou nos internamentos.
Rui Jorge Cabral (in AO)
