A, B, C… O alfabeto das hepatites passíveis de contrair aumentou com os anos, tal como a sua incidência na população. As ‘letras’ mais graves, B e C, matam na Europa 8 vezes mais do que a SIDA. Em dia internacional desta doença do fígado, autoridades reforçam apelo à prevenção.
A doença que muitas vezes é desconhecida do próprio portador (assintomática), pode tornar-se crónica, assumir formas graves e até provocar a morte, sendo na maior parte dos casos altamente contagiosa.
Assim, não é actualmente conhecida a real incidência das hepatites na Região mas será, com certeza, superior ao estimado.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, sabe-se que na Europa, as hepatites B e C (as mais graves) matam oito vezes mais do que a SIDA, três vezes mais do que a tuberculose e mais do que o cancro da mama ou os acidentes de viação.
Conforme os últimos dados que conseguimos apurar, foram notificados na Região 26 casos de doentes portadores de hepatite C em 2001, contra 14 casos em 1999 e oito em 2000. Uma tendência que se estará a manter.
Mesmo sem números regionais e em resultado da prática clínica, o director da Unidade de Doenças Infecciosas do Hospital do Divino Espírito (HDES), em Ponta Delgada, alertou este ano para “um grande aumento” registado ultimamente nos casos de Hepatite C.
Em contrapartida, Melo Mota adiantou que relativamente à Hepatite B, para a qual já há vacinas, o número de casos têm descido no HDES, “quer nos internamentos, quer nas situações agudas”.
A vacina para a hepatite B é gratuita quando integrada no Plano Regional de Vacinação, e obrigatória desde os primeiros meses de vida.
O especialista, a propósito da incidência da SIDA na Região, condenou atitudes negligentes relativamente à saúde.
Além de alertar para comportamentos de risco, o especialista sublinhou que a detecção precoce é fundamental para o tratamento.
A prevenção continua, de resto, a ser a melhor ‘vacina’ e ontem a Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) promoveu a divulgação de factos sobre esta doença do fígado para assinalar o dia internacional.
Segundo o presidente da APEF, Rui Tato Marinho, poderão existir em Portugal cerca de 200 mil pessoas infectadas com os vírus das hepatites B e C. “A maioria delas não sabe que está infectada e não tem qualquer sintoma”, refere igualmente o especialista, citado pela Lusa.
Embora não só, as hepatites são maioritariamente provocadas por vírus e os que mais frequentemente atacam o fígado são os A, B e C. A par do tratamento adequado (em Portugal os medicamentos para tratamento das hepatites B e C são integralmente comparticipados pelo Estado), o diagnóstico precoce é a principal ferramenta no combate à doença.
O que é a hepatite e os seus riscos?
A hepatite, de acordo com a definição facultada pela farmacêutica Roche, é uma inflamação no fígado que, dependendo do agente que a provoca, se pode curar apenas com repouso, requerer tratamentos prolongados, ou mesmo transplante de fígado quando se desenvolvem complicações graves da cirrose como a falência hepática ou cancro no fígado, que podem levar à morte.
As hepatites podem ser provocadas por bactérias, por vírus, entre os quais estão os seis tipos diferentes de vírus da hepatite (A, B, C, D, E e G) e também pelo consumo de produtos tóxicos como o álcool, medicamentos e algumas plantas.
A Sociedade Portuguesa de Hepatologia alertou para a necessidade do rastreio da hepatite C em grupos de risco, sublinhando que, na próxima década, esta doença poderá fazer aumentar a incidência da cirrose e do tumor do fígado em 62 por cento.
A presidente da SPH, Estela Monteiro, diz que a informação sobre a doença deve começar nos “bancos das escolas”, uma vez que os jovens começam a beber cada vez mais cedo.
“Este estrato populacional é muito sensível ao álcool e a médio prazo entre 8 a 12 por cento irão desenvolver graves doenças do fígado”, sublinhou.
Esta sociedade diz que há grupos de elevado risco que deveriam fazer o rastreio da hepatite C, como os toxicodependentes e pessoas que receberam transfusões de sangue ou que foram sujeitos a intervenções cirúrgicas antes de 1992.
Relativamente aos toxicodependentes, a partilha de seringas representa um risco agravado.
Outro risco, é o das tatuagens, porque apesar do material ser descartável, a “tinta não é” e pode transmitir o vírus da hepatite.
Especialistas alertam ainda, para os perigos de infecção em consultórios dentários e salões de estética com pedicures e manicures.
A transmissão dos vírus das hepatites C e B ocorre através do contacto com sangue infectado, seja pelo manuseamento de objectos cortantes ou através de relações sexuais.
Olimpia Granada (in AO)