Gisela João quer continuar a fazer as pessoas sonhar no ‘hostel’ da “Mariquinhas”

Gisela João * Coliseu Micaelense - Foto CMPDL
Gisela João, fadista, 36 anos, entra em casa das pessoas “sem pedir licença a ninguém”, e a única coisa que lhes pede é que continuem a sonhar – mas atentas aos novos tempos, como canta na nova versão da “Mariquinhas”.

Em concerto na noite de sábado em Ponta Delgada, a fadista de Barcelos apresentou o “‘Hostel’ da Mariquinhas”, onde fala de ‘wi-fi’, dos ‘likes’, dos ‘tuk-tuk’, e das estrelas dadas aos condutores da Uber.

“Entro em casa das pessoas sem pedir licença. Acho que os artistas têm duas obrigações: uma é fazer as pessoas sonhar, a arte serve para isso, fazer as pessoas questionar-se. E a outra é falar da situação atual, do que acontece”, contou à agência Lusa momentos antes de entrar no palco do Coliseu Micaelense, na VIII Gala de Beneficência da Câmara Municipal de Ponta Delgada.

Os palcos são, acredita Gisela João, lugares onde “qualquer coisa acontece”, que pode transformar um dia negativo numa experiência memorável.

“Há qualquer coisa que acontece de repente quando começas a cantar, com a energia que passa, 90% do que acontece no concerto depende das pessoas”, acredita, antes de lembrar diversas experiências transformadoras.

Nos Açores, Gisela João recorda a inauguração do centro de artes Arquipélago, em 2015, onde cantou para uma casa cheia e onde igual número de espetadores ficou de fora por não conseguir entrar.

E relembra: “Disse às pessoas para não me pedirem ‘encore’ e no final do concerto, que era gratuito, pedi para todos saírem para deixarem entrar quem estava lá fora. E dei outro concerto”.

“Eu quero é que as pessoas me venham ouvir e me queiram ver cantar”, afirma, o que nem sempre acontecia nas casas de fado, onde por vezes os espetadores não sabiam quem eram os intérpretes a cada noite.

Gisela João tem dois discos editados: um trabalho homónimo, em 2013, e “Nua”, em 2016.

Vencedora de diversos prémios, é de Miguel Esteves Cardoso um dos maiores elogios públicos: “Amália Rodrigues foi a grande fadista do século XX. (…) Sei e sinto, com a mesma força, que Gisela João é a grande fadista do século XXI”, escreveu o escritor e ex-jornalista.

A gala solidária da maior autarquia açoriana angariou cerca de quatro mil euros, receita que reverterá integralmente a favor da delegação nos Açores da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO).

 

 

Lusa

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