O pedido do PSD/Açores para o parlamento regional debater com urgência a situação de emergência social que se regista na Região, é mais do que um facto político. Com efeito, das inúmeras reuniões e visitas, que aquela força partidária tem realizado junto das instituições de apoio social, vão resultando sucessivos relatos do agravar das situações de pobreza e de dificuldades em todas as ilhas. Trata-se de uma realidade diária. Já não há dias de descanso na pobreza nacional. E eles também não existem nas ilhas de bruma.
Apesar dos mediáticos roteiros de solidariedade social, que a outra força partidária maior entre nós – a que suporta a tutela – fez questão em publicitar como um novo paradigma na forma de auxiliar, o certo é que os casos dramáticos se sucedem, a pobreza envergonhada já ultrapassou o silêncio das casas tristes, e há agregados em plena insolvência familiar. Naturalmente que, quando o partido do poder enaltece o papel dos dirigentes das imensas IPSS, que ajudam imensa gente por estas bandas, há alguma satisfação. Já quando o governo suportado por esse mesmo partido esgrima mudanças no financiamento das mesmas, criando algumas injustiças e querendo igualar escalas, pois talvez aí essa satisfação se esbata, de alguma forma. Dos lares açorianos, saem cada vez mais pedidos de ajuda. Há gente com fome nos Açores. E isso também não pode ser um facto político, é um drama social, que a política tem de abraçar como uma causa nobre, acabando com as assimetrias gritantes que tratam de forma diversa os habitantes das nossas paragens paradisíacas.
Quando confrontado com este retrato, e apesar dos milhões europeus que cá chegam e das inúmeras estruturas e equipas criadas para minimizar danos sociais e preparar o futuro das novas gerações – fora dos velhos guetos -, o governo regional ofende-se. Ninguém pode criticar a tutela açoriana, mesmo que se meta pelos olhos dentro que houve opções erradas. E que a crise internacional, a mesma que em 2008, o dito partido do poder omitia com inegável sucesso, não pode justificar tudo. Afinal, ter uns Açores tão bem geridos como estes, é fruto de um localismo de talento e profissionalismo.
Há dias, chocou alguns angrenses que houvesse um sem-abrigo a dormir na rua, bem no centro da cidade património. Há, de facto, quem não aceite ajuda nos termos em que ela é oferecida. E esse não será um caso isolado. Mas preocupante é haver cada vez mais casas onde a fome cresce…aqui mesmo ao nosso lado.
A realidade do nosso país é preocupante. A realidade das nossas ilhas, onde parece que o dinheiro abunda, e que são geridas da tal forma irrepreensível, torna-se assim ainda mais preocupante. Certamente, há algo que me escapa.
Por Miguel Sousa Azevedo