Cientistas açorianos querem provar que Darwin se enganou ao menosprezar o interesse das ilhas depois de uma visita à Terceira e planeiam ilustrar a história da vida ao longo de 46 quilómetros em São Miguel.
“Queremos associar-nos às celebrações dos 200 anos do nascimento de Charles Darwin e dos 150 anos da publicação da Origem das Espécies, envolvendo não só os cientistas, mas toda a população”, disse o professor António Frias Martins, do Departamento de Biologia da Universidade dos Açores.
No regresso a Inglaterra da sua viagem de exploração no Beagle, Darwin aportou à ilha Terceira a 19 de Setembro de 1836, onde esteve alguns dias, e terá também passado brevemente por São Miguel, mas sem ir a terra. Nas suas memórias da viagem, o autor da Teoria da Evolução relata um passeio pelo interior da Terceira que lhe foi oferecido pelo cônsul inglês, tendo então cometido o “erro” ao escrever: “Gostei imenso da visita, mas não encontrei nada digno de registo”.
Para corrigir essa afirmação de Darwin e provar que nos Açores “há muita coisa digna de registo”, António Frias Martins promete para Setembro “quatro dias inesquecíveis para os estudiosos da ciência da evolução”.
Trata-se de um simpósio internacional de quatro dias, entre 19 e 22 de Setembro, com o título “O erro de Darwin e o que estamos a fazer para o corrigir”.
Será uma oportunidade para mostrar a investigação que se faz nos Açores, já que – a par de personalidades de relevo mundial – a Universidade dos Açores e todos os que trabalham sobre o arquipélago foram convidados a apresentar os resultados do que têm vindo a desenvolver, referiu.
Entre os participantes estarão Lynn Margulis, conhecida pela sua história da origem da vida tal como hoje a conhecemos, Bruce Libermann, que foi aluno de Niles Eldrege e Stephen Jay Gould, pais da teoria do equilíbrio pontuado, e Peter e Rosemary Grant, especialistas na evolução dos “tentilhões de Darwin” nas Galápagos e que já nos anos 70 estudaram os tentilhões dos Açores.
Concomitantemente com as intervenções de fundo desses investigadores, haverá uma apresentação de um convidado português que tenha trabalhado ou esteja a trabalhar nos Açores, explicou Frias Martins.
“Nós tomámos a peito a afirmação de Darwin, muito embora reconheçamos que 50 anos depois, em correspondência que trocou com Francisco Arruda Furtado, o primeiro malacólogo dos Açores, viria a escrever que as ilhas oceânicas eram laboratórios naturais, que ele tinha muita sorte por viver e trabalhar nos Açores e que o seu trabalho daria certamente muitos frutos para a ciência”, afirmou.
Além do simpósio, Frias Martins está a planear uma ambiciosa exposição chamada “O Trilho da Vida”, que “deverá dinamizar na sua preparação toda a ilha, as autarquias e as escolas”, prevendo-se que seja inaugurada a 19 de Setembro e se mantenha em actividade até 2010.
Tempo em espaço
O objectivo central da exposição será “transformar tempo em espaço” ao ilustrar os 4,6 mil milhões da idade da Terra num percurso de 46 quilómetros entre a Ponta da Madrugada, no extremo leste da ilha de São Miguel, e Ponta Delgada.
“Em determinados pontos desse trilho serão construídos pavilhões para marcar alguns dos grandes acontecimentos da história da vida, como o seu aparecimento, a evolução das bactérias, o aparecimento do sexo e da morte programada, o aparecimento das mitocôndrias, dos animais e plantas, da vida e morte dos dinossauros e a evolução humana”, referiu.
De acordo com os planos traçados, caberá às autarquias e às escolas secundárias dinamizar os pavihões.
Esta será uma actividade de um novo centro de ciência que está para ser inaugurado em São Miguel, no concelho da Lagoa, chamado Expolab, que terá uma enorme maqueta de São Miguel com a sinalização do “Trilho da Vida” e apresentará uma exposição sobre a evolução da vida organizada pelo Governo Regional.
António Frias Martins dirige o pólo açoriano do CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, com sede no Porto), que funciona no Departamento de Biologia da Universidade dos Açores.
in Correiodosaçores