O Movimento Cívico de Agricultores de São Miguel, nos Açores, decidiu na quinta-feira recolher assinaturas na ilha para convocar uma Assembleia Geral extraordinária da Associação de Agricultores locais e forçar a discussão do futuro do setor.
A decisão foi tomada por unanimidade numa sessão realizada na quinta-feira à noite, na freguesia de Covoada, no concelho de Ponta Delgada, com a presença de mais de 50 agricultores, na maioria produtores de leite.
“Nós vamos fazer circular uma lista, um documento, onde vamos reunir as assinaturas dos associados da Associação Agrícola de São Miguel, para exigirmos uma Assembleia Geral extraordinária, com os pontos (…) que falámos aqui esta noite, [e] que nos preocupam imenso”, disse aos jornalistas o porta-voz do grupo, Fernando Mota, no final da reunião.
Segundo o responsável, estão em causa medidas que preveem a redução de adubos, “o desaparecimento quase completo dos subsídios” e a passagem de “um quarto” das explorações agrícolas para modo biológico, entre outras.
Os agricultores açorianos também estão preocupados com o Acordo de Parceria Estratégica 2023/2028, assinado em 2023 entre o Governo Regional e vários parceiros, incluindo a Federação Agrícola dos Açores, que prevê, entre outras medidas, o incentivo “à redução voluntária da produção de leite e reconversão das explorações de leite para carne”.
Contestam, ainda, os objetivos do Pacto Ecológico Europeu que inclui, até 2030, uma redução de 50% da utilização dos pesticidas, de 20% da utilização de fertilizantes, de 50% das vendas de agentes antimicrobianos utilizados em animais de criação, a exploração de 25% das terras agrícolas segundo os métodos da agricultura biológica e o fim do gasóleo verde.
“Isso vai mudar muito aqui na terra [ilha de São Miguel]. As pessoas não fazem ideia, mas provavelmente duas fábricas de leite irão desaparecer, porque essas fábricas estão com a capacidade instalada para xis mil toneladas por ano. [E], se desaparecer esse leite, não têm leite com que trabalhar. Não sei que ideias são essas e com que fundamento, porque (…) nada vai ser igual como hoje”, explicou Fernando Mota.
O porta-voz do Movimento Cívico de Agricultores de São Miguel referiu que as preocupações “fazem sentido”, numa altura em que os agricultores europeus também saem à rua.
Durante a sessão, Fernando Mota resumiu que os agricultores açorianos estão preocupados com a “baixa do preço do leite”, com as “perdas acumuladas de ano para ano”, com as burocracias nos licenciamentos das explorações e com os pagamentos para a Segurança Social por parte dos jovens agricultores.
Por isso, reivindicam a valorização dos seus produtos, “margens de lucro positivas” para as suas explorações e “menos burocracias com papéis”, pois segundo Fernando Mota “é mais fácil registar um filho do que um vitelo”.
Os agricultores da ilha de São Miguel estiveram reunidos na noite de quinta-feira, depois de terem cancelado uma concentração prevista para aquele dia, no seguimento de um protesto que decorreu na semana passada.
No passado dia 08, aquele movimento realizou uma marcha lenta que juntou “cerca de 400” viaturas de agricultores, entre tratores, carrinhas e veículos ligeiros, que passou pelos concelhos de Ponta Delgada, Lagoa e Ribeira Grande.
Lusa