Mais de uma centena de agricultores em São Miguel foram afectados pelas condições climatéricas desfavoráveis deste ano e pela praga conhecida por “traça”, que estragaram 5 a 6 mil toneladas de batata e causaram um prejuízo de um milhão de euros.
Há agricultores que perderam tudo e que, sem meios para pagar os custos de produção, já estão a desistir das sementeiras. Um autêntico “drama”, diz Olivério Melo, o maior produtor na ilha, que também sofreu perdas significativas na campanha deste ano (700 toneladas).
“Nunca houve um ano tão mau como este”. Percebe-se porquê: não choveu em Março, Abril, Maio e Junho. Quando choveu, foi em abundância e fora da época própria, ou seja, já em pleno Verão. Nestas zonas, a seca prolongada aliada à forte precipitação favoreceu a humidade e o desenvolvimento da traça da batata.
“A produção foi lastimável: há produções com menos de 50%, 60% e 70%. São esporádicos os casos de produções normais: a maior parte foi extremamente baixa. Quando já não era necessário, a água, ela veio a mais”, afirma ao DN. A traça da batata veio piorar tudo. Em 2008, esta praga já tinha aparecido “em grande quantidade e em 2009 outra vez, o que levou as pessoas a perderem quase tudo”.
O combate à praga não tem sido fácil, principalmente desde que foi retirado do mercado um produto eficaz na sua erradicação, sem que até agora aparecessem outros igualmente “bons e em condições de eliminar a praga”.
Com as mudanças climáticas a provocarem sérios danos à cultura da batata e sem forma de acabar com as pragas, os resultados estão à vista: “Enormes prejuízos aos produtores, o que levará a que deixem de cultivar. Já este ano se cultivou menos e, para o próximo, irá baixar mais”.
Olivério Melo afirma que os apoios do Governo Regional são necessários para compensar as perdas calamitosas dos agricultores. Até porque alguns homens que vivem do que a terra lhes dá não vão poder fornecer marcas e superfícies comerciais. Noutros casos, nem sequer terão o tubérculo em quantidades suficientes para auto-consumo.
Além do prejuízo económico, a “destruição” de várias produções de batata representa um duro revés na diversificação que se pretende para a agricultura dos Açores. Olivério Melo diz que se está a caminhar para uma situação, pouco desejável, da “monocultura da vaca e pouco mais”.
A crise da batata, que está a atingir diversas localidades da ilha de São Miguel, é “muito grave”, tendo em conta que os apoios são “poucos ou nenhuns”, conclui Olivério Melo.