Os arqueólogos Nuno Ribeiro e Anabela Joaquinito lamentaram hoje não terem sido integrados numa equipa formada pelo Governo Regional dos Açores para estudar alegados achados arqueológicos na ilha Terceira, reclamando terem descoberto um dos sítios.
“Não é correto e não é ético não incluir na equipa os investigadores que descobriram o local”, frisou Nuno Ribeiro, ouvido hoje pela Comissão de Assuntos Sociais da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, em Angra do Heroísmo, no âmbito da discussão de uma iniciativa do PPM, que recomenda ao Governo Regional que promova um estudo que permita a datação de achados nas ilhas Terceira e Corvo, por haver cientistas que defendem que são anteriores ao povoamento português do arquipélago.
Nuno Ribeiro e Anabela Joaquinito têm vindo a alertar para a necessidade de se estudarem algumas estruturas nestas ilhas, bem como no Pico e em Santa Maria.
Os arqueólogos apresentaram dois projetos ao Governo Regional para estudarem os locais, mas foram rejeitados, o primeiro por falta de verbas e o segundo, em que pediam apenas prospeções arqueológicas e uma sondagem a um monumento, porque o executivo não viu necessidade de se fazerem os estudos propostos.
Nesse sentido, estranharam que o Governo Regional tenha contratado agora uma equipa de especialistas para estudarem sítios na ilha Terceira, onde dizem ter dezenas de estruturas já inventariadas.
A Direção Regional da Cultura anunciou em setembro que uma equipa de especialistas das universidades dos Açores, Coimbra e Lisboa, ligadas à história, à geologia e à arqueologia vão iniciar, a meados de outubro, um estudo sobre os achados arqueológicos na Terceira, acrescentando que a equipa vai integrar também um representante do Instituto Histórico da Ilha Terceira e técnicos do Campo Arqueológico de Mértola e da Direção Regional de Cultura do Algarve.
Os arqueólogos ouvidos pela comissão alegaram que não podem datar as construções encontradas no Monte Brasil e na Grota do Medo, na ilha Terceira, bem como os vestígios detetados na ilha do Corvo, porque necessitam de realizar escavações, mas disseram que não têm dúvidas de que foram “construídas pelo Homem”, ao contrário de pareceres de outros arqueólogos.
Nuno Ribeiro lamentou que os arqueólogos portugueses presumam à partida que as estruturas não possam ser anteriores ao povoamento português, salientando que os achados têm tido um “acolhimento muito bom” entre os especialistas internacionais.
O investigador criticou ainda a falta de acompanhamento arqueológico de obras públicas e privadas, como a União Europeia obriga, que leva a que se percam muitos vestígios.
Anabela Joaquinito salientou que as caraterísticas destes monumentos se assemelham às de outros que existem noutros países e que não há estruturas semelhantes no território português, dando como exemplo um apogeu identificado no Monte Brasil, na ilha Terceira, em que os arqueólogos presumem existir uma intenção astronómica, devido à escavação de quatro pias numa rocha, por onde o sol vai passando.
Lusa