Sou professora do primeiro ciclo do ensino básico e este ano, na minha escola, foi-nos sugerido que organizássemos o trabalho da turma em torno dos interesses e necessidades dos alunos, mas procurando desenvolver um valor humano. Optei por abordar o valor da “diferença”, porque entendo que a diferença é um valor a respeitar e a promover!
Posteriormente, Félix Rodrigues, candidato à Assembleia da República pelo CDS-PP Açores, pediu-me que, de forma desapaixonada, discorresse sobre o tema “como a política é importante para nós”. Aceitei o desafio e centrei-me na minha experiência educativa.
Neste artigo procurarei ressalvar o valor da diferença que existe na política e que se plasma, nomeadamente, na variedade de ideais, partidos e pessoas – especialmente aquelas que manifestam publicamente discordância face a uma posição do governo ou do respectivo partido.
O político, em particular, deve, a meu ver, marcar a diferença na forma como defende os direitos e deveres do nosso País, mas é aos adultos, em geral, que cabe a tarefa de “politizar”, ou seja, trabalhar pela formação política dos indivíduos e pela sua consciencialização relativamente à realidade política que os cerca.
Enquanto cidadã, em geral, e professora, em particular, procuro que os meus alunos percebam que quando ouvem um qualquer vizinho comentar – “Eu não voto porque os políticos são todos iguais!” – devem saber discernir se aquela generalização extremista é merecedora de atenção. Isto é, se reflecte insatisfação de alguém que se sente “lesado” porque penalizado por uma determinada lei ou se é apenas uma frase-feita ao “sabor da onda” usada para camuflar ignorância política. Qualquer que seja o caso importa reter que é possível manifestarmo-nos a favor ou contra uma determinada decisão política em locais e momentos apropriados para esse efeito.
Uma definição de “política” dada pelos meus alunos classifica-a como “a habilidade de alcançar objectivos através de relações humanas” pois é isso que mais observam nas campanhas eleitorais: políticos a cumprimentar “o povo” e o povo a enunciar as suas angústias e preocupações, muito embora não possamos afirmar se essas relações em concreto irão surtir os efeitos desejados.
É por isso que acho que a política também é para nós, para que saibamos ler nas entrelinhas destes cenários, perceber o que se pretende com eles, se contribuem de alguma forma para a política que há-de ser seguida daí em diante ou se são meros espectáculos de ilusionismo dissimulado.
Não obstante a finalidade das campanhas eleitorais o que importa reter é que nesses momentos também nós – “o povo” – podemos e devemos dar, como os políticos, a cara pelos nossos ideais. Num País como o nosso qualquer cidadão (político ou eleitor) tem o direito – se não o dever – de manifestar conscientemente o seu agrado ou descontentamento relativamente a uma decisão sobre qualquer questão, mas sobremaneira naquelas que se repercutem no futuro do seu país – e a isso chamamos Democracia!
Os actores deste palco que é a política são tão necessários quanto os dos restantes palcos da vida, pois todos nós, para vivermos em sociedade temos de representar um determinado papel! Contudo, se formos capazes de reclamar, também temos de ser capazes de reconhecer a coragem e perseverança com que alguns políticos se dedicam a determinadas causas que defendem com unhas e dentes.
Para que nos tornemos cidadãos conscientes é preciso ouvir notícias do nosso País e do Mundo, assistir a debates entre candidatos, oposição e aspirantes a qualquer um destes cargos, tomar conhecimento das suas intenções, interpretar discursos de modo a perceber se as promessas que eles veiculam são pura demagogia, ou antes anseios de algum sonhador (que merece ou não o benefício da dúvida já que alguém disse que “o sonho comanda a vida”!)… ou se são puras trocas de benesses (e neste caso para o conseguirmos interpretar temos de dominar termos como astúcia/ardil/lobby/complô/corrupção, entre tantos outros…).
Só então estaremos aptos a formar opinião, com base em argumentos concretos e não “ao sabor da onda”.
É por isso que penso que a política também é para nós, porque são os políticos que elegemos que vão representar a nossa vontade nas tomadas de decisão que determinam o futuro do nosso País e, por conseguinte, a qualidade da vida que nele poderemos ter.
Ora se a política do País em que vivemos define a forma como viveremos, então precisa da nossa intervenção activa, como políticos ou como eleitores!
Na minha opinião o valor da diferença na política reside precisamente na quantidade de pareceres que possam garantir a qualidade das decisões que contribuem para o desenvolvimento do nosso País… e quantos mais pensadores houver melhor organizo o meu próprio pensamento.
Um cidadão consciente toma parte em cada acto político da sociedade em que se integra: vota a favor ou contra, ou em branco, mas não deixa de manifestar a sua opinião, demitindo-se deliberadamente da abstenção porque a assumi-la seria a ausência total ou a inexistência de consciência. Dubito, ergo cogito, ergo sum: “Eu duvido, logo penso, logo existo” era já a conclusão do filósofo e matemático francês Descartes, pelo que, se tanto duvida, aquele cidadão nosso vizinho, como todos nós, deve votar!