Associações classificam discurso do Papa como um “incitamento ao ódio”

 Reagindo ao discurso proferido segunda-feira pelo Papa, que condenou a escolha da orientação sexual e elogiou a “lei natural”, várias associações consideraram que esta mensagem reforça a discriminação dos homossexuais, sendo contraditória com os princípios católicos de tolerância e respeito pela diferença.

    “Trata-se de um incitamento ao ódio, totalmente inaceitável e até paradoxal nesta época do Natal, em que se comemora o nascimento de Jesus e se assinala a importância de valores como o amor, a paz e a tolerância”, afirmou João Carlos Louçã, da Frente de Combate à Homofobia, Panteras Rosa.

    Em declarações à Lusa, João Carlos Louçã afirmou-se “chocado”, mas não surpreendido com as declarações de Bento XVI, considerando que este Papa tem promovido um “conservadorismo retrógrado” e levado a cabo “um dos mais ferozes ataques aos direitos sexuais”.

    Na sua alocução à Cúria Romana, segunda-feira, o Sumo Pontífice afirmou que o desprezo pela ordem da Criação, assente na união entre os dois sexos, configura “a destruição da própria obra de Deus”, condenando a teoria do género, segundo a qual os papéis e a identidade de género não são atribuídos pela Natureza, mas pela socialização.

    “Não faz nenhum sentido impor a Natureza como o grande e único regulador das relações e dos comportamentos sexuais. Se assim fosse, os padres não poderiam fazer um voto de castidade, já que a repressão do desejo sexual é contra-natura”, defendeu o dirigente da associação Panteras Rosa.

    Da mesma forma, também a associação Opus Gay considera que as declarações do Papa aumentam o estigma que já pesa sobre a homossexualidade, sobretudo em alguns países, onde esta ainda é criminalizada.

    “Em algumas partes do mundo um discurso como este pode mesmo levar a que sejam perpetrados crimes de ódio contra os homossexuais”, alertou António Serzedelo, da Opus Gay.

    Fabíola Cardoso, da associação de defesa dos direitos das lésbicas Clube Safo, partilha a mesma preocupação, lamentando que a Igreja Católica esteja a veicular um discurso “perigoso e fundamentalista”.

    “Se um discurso destes fosse feito por um dirigente muçulmano, ninguém teria problemas em dizer que se trata de um incitamento ao ódio”, afirmou.

 

 

in Lusa/AO Online

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