O autor do relatório sobre o incêndio no hospital de Ponta Delgada, Açores, afirmou hoje que aquela unidade já podia ter reaberto caso os trabalhos fossem mais rápidos e alertou que no edifício permanecem locais de risco.
“Não tenho dúvidas que, se o trabalho fosse mais rápido, e ontem [quarta-feira] passaram quatro meses, o hospital já podia estar aberto. Tenho perfeita consciência disso. O hospital já podia estar aberto”, afirmou João Mota Vieira, durante uma audição na comissão de Assuntos Sociais do parlamento açoriano que durou perto de três horas.
O engenheiro foi, juntamente com Marco Ávila, o autor do relatório pedido pela administração do Hospital Divino Espírito Santo (HDES) sobre o incêndio que deflagrou em 04 de maio naquela unidade de saúde, a maior dos Açores.
Mota Vieira considerou que o relatório teve o “condão” de acelerar os trabalhos de recuperação do HDES e a construção do hospital modular que “andavam a passo de caracol”.
“Víamos um grande descanso dentro do hospital. Os trabalhos de recuperação a decorrer num ritmo absolutamente lento. Trabalho das 09:00 às 17:00 com muita calma. Aquilo tudo sujo. Instalações de cabos elétricos por cima de outras instalações incineradas”, denunciou.
O especialista afirmou que o “hospital de Ponta Delgada devia abrir independentemente do hospital modular” e defendeu que aquela infraestrutura modular, instalada na zona do heliporto do HDES, “não é a melhor solução”.
“O hospital modular vai entrar em funcionamento na totalidade no último trimestre do ano. Vão passar mais quatro meses. Somados esses quatro meses, aos outros quatro que já passaram, são oito meses. Oito meses não davam para pôr o HDES a funcionar? Quatro meses já davam. Tenho a certeza que davam”, insistiu.
Mota Vieira alegou que, mesmo que o HDES reabrisse com “algumas deficiências”, essa seriam “menores do que as deficiências” do hospital da CUF, modular e outros centros de saúde da ilha.
“Não consigo compreender porque é que a urgência não abre, porque é que o bloco operatório não abre e por aí afora. Não consigo compreender. Não arderam. Na nossa opinião, o dinheiro e o esforço que estão a gastar no hospital modular deveria ser gasto, para já, no hospital de Ponta Delgada”, reforçou.
O engenheiro questionou se a segurança “está assegurada no hospital modular”, interrogando se aquele edifício está licenciado, com vistorias em dia e com projeto segurança contra incêndios aprovado pelo Serviço Regional de Proteção Civil.
O autor do relatório salientou ainda que, à data do incêndio, a central de incêndios do HDES “estava inibida há, pelo menos dois dias”, e alertou que os riscos que deram origem ao fogo continuam presentes.
“À data do relatório, o HDES tinha equipamento idêntico ao que ardeu noutros locais e, provavelmente, continua a ter locais de risco de incêndio. Portanto, se os riscos que originaram o incêndio continuavam todos presentes, podia acontecer um incêndio noutro local do hospital”, avisou.
Segundo disse, aquando do incidente, o HDES não tinha um engenheiro mecânico, celagens corta-fogo, nem eletricistas com formação, sendo a “monitorização da segurança feita pelos telefonistas”.
Mota Vieira voltou a sugerir a realização de uma auditoria sobre o combate às chamas, considerando “que não é normal um incêndio daqueles demorar sete horas” a extinguir.
“É bom que administração regional pegue no relatório e o aplique no hospital da Horta e em outras unidades de saúde”, afirmou.
Em 05 de julho, os autores do relatório técnico, que a Lusa teve acesso, apontavam “recomendações muito urgentes” à administração, como inspeção a todos os quadros elétricos e melhoria do plano de emergência interna.
O HDES, em Ponta Delgada, foi afetado por um incêndio no dia 04 de maio, que obrigou à transferência de todos os doentes internados para outras unidades de saúde, incluindo para fora da região, provocando um prejuízo estimado em 24 milhões de euros.
Lusa