Balanço positivo do uso da sala para crianças vítimas de abusos e maus tratos

A magistrada Maria José Morgado fez um balanço altamente positivo da entrada em funcionamento, há dois anos, no DIAP de Lisboa de uma sala adequada para ouvir crianças vítimas de abuso sexual e maus tratos.

 

Trata-se da sala decorada com desenhos de animais e flores nas paredes, com mobiliário infantil e colorido, possuindo jogos e um pequeno computador, por forma a que, neste ambiente tranquilo e adequado, a criança se sinta capaz de prestar um depoimento verdadeiro, do crime que testemunharam.

Segundo a diretora do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, a criação deste espaço para acolher e recolher o depoimento dos menores vítimas de abuso sexual ou de maus tratos teve em conta precisamente a “grande vulnerabilidade” e a “baixa auto-estima” de muitas destas crianças.

Em média o DIAP de Lisboa tramita, por ano, 150 a 180 inquéritos por abuso sexuais de crianças e igual número de investigações por maus tratos de menores, revelou a magistrada.

Nos anos de 2010 e 2011 e nos primeiros meses deste ano (até 30 de Abril último), o DIAP registou 384 inquéritos por abuso sexual de menores e 370 por maus tratos.

Segundo Maria José Morgado, os maus tratos a crianças surgem frequentemente associados a fenómenos como a toxicodependência, alcoolismo e delinquência dos autores dos crimes e associados a um quadro de pobreza, violência e deformação moral.

Quanto aos abusos sexuais de menores, explicou, continuam a ser crimes de proximidade que podem ter como intervenientes familiares da vítima, colegas de escola ou amigos, bem como factores ligados à institucionalização da criança (internato de menores).

Maria José Morgado alertou para o facto de, em termos estatísticos, terem disparado os crimes sexuais relacionados com a pornografia de menores na Internet, uma exploração “altamente rentável” que grassa na Europa de Leste, África, Oriente e América Latina e cuja “volatilidade” dos crimes dificulta um combate eficaz.

Esta sala, única no país, vai ao encontro das diretivas europeias sobre “boas práticas” na investigação deste tipo de crimes e visa a obtenção de depoimentos fidedignos de crianças que tenham sido abusadas ou maltratadas.

Maria José Morgado referiu que a sala tem sido “muito utilizada” e que mesma tem sido frequentemente cedida pelo DIAP de Lisboa ao Tribunal de Família e Menores, que também funciona no Campus de Justiça, para a realização adequada de encontros entre pais e crianças menores.

Desta forma, “não é uma sala exclusiva do DIAP de Lisboa”, estando à disposição de qualquer tribunal do Campus que a requeira, explicou a procuradora-geral adjunta.

A sala júnior foi um projeto do DIAP e da sua 2.ª Secção, especializada na investigação dos crimes de abuso sexual contra menores.

O espaço conta com um vidro unidireccional, que permite que psícólogos e outros peritos observem o depoimento da criança vítima de abusos sem que esta se aperceba que está a ser observada nas declarações prestadas ao Ministério Público.

 

Lusa

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