Uma base de dados da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal), permite identificar em média cinco crianças vítimas de abusos sexuais por dia, 10.000 até hoje, ao dar à polícia acesso a milhões de imagens apreendidas ou detetadas na Internet.
Menos de sete anos depois da entrada em serviço desta base de dados internacional, a ICSE, apoiada pelos países do G8 e financiada pela Comissão Europeia, foi recentemente superada uma “etapa marcante” com a identificação de uma 10.000.ª vítima, anunciou hoje a organização de cooperação policial internacional, num comunicado emitido a partir da sua sede, em Lyon (França).
O tráfico de imagens pornográficas envolvendo crianças “explodiu” a partir dos anos 1990 com a internet, segundo uma responsável da equipa de identificação integrada na unidade de luta contra a pedocriminalidade.
“Nenhum país é poupado”, disse a responsável, de nacionalidade francesa, que pediu para não ser identificada.
Os serviços policiais de 49 dos 190 países membros da Interpol estão permanentemente ligados à base de dados ICSE. Um sofisticado ‘software’ de comparação de fotos e vídeos e de análise do conteúdo áudio permite aos investigadores relacionar vítimas, suspeitos e locais.
“Em mais de 95% dos casos, o agressor pertence ao círculo da vítima”, sublinhou a investigadora. “Por vezes vemos as crianças crescerem nas fotos, sem conseguirmos encontrá-las, mas outras vezes conseguimos identificá-las em 24 horas”.
Um dos casos que ilustra o funcionamento da base de dados
É o de um homem de cerca de 40 anos, detido em junho de 2015 em Ariège, no sul de França, por ter divulgado na internet imagens pornográficas de uma sobrinha de 10 anos. Do outro lado do mundo, as imagens entraram na base de dados da Interpol pela mão de polícias neozelandeses infiltrados num fórum ‘online’, permitindo à polícia francesa concluir, no mesmo dia, que as imagens eram de Ariège, ao detetar, em segundo plano, um uniforme de bombeiro daquele município.
O secretário-geral da Interpol, Jürgen Stock, sublinhou no entanto que os êxitos são “infelizmente a ponta do icebergue”, uma vez que a esmagadora maioria das vítimas da base de dados continua por identificar.
“Podemos fazer muito mais. Os governos, o setor privado e a população também têm um papel a desempenhar”, afirma no comunicado.
Lusa