Cada vez mais escritores rendidos à escrita para os mais novos

livrosO preconceito cessou, as editoras passaram a consagrar ao género uma atenção maior e não é raro, hoje, um escritor de nome feito na Literatura dirigida a adultos aceitar “moldar o verbo” à escrita para os mais novos.

Basicamente, a literatura infantil e a literatura juvenil deixaram de ser encaradas como “tarefa para autores menores” ou, eventualmente, em crise de criatividade.

Ao mesmo tempo, aumentou também de grau – em teoria, pelo menos – a exigência. Espera-se hoje dos autores uma escrita gramaticalmente vigiada, imaginativa, livre dos tiques “infantilistas” que durante muito tempo dominaram o género e reduziam a criança à condição de receptor insensível e acrítico.

 

A literatura para os mais novos tem hoje, em Portugal, um total considerável de cultores, na cota da excelência vários deles.

 

Contas feitas, serão talvez em maior número aqueles que distribuem a sua actividade criativa por vários géneros do que os que se consagram apenas à escrita para crianças e jovens.

 

Do primeiro grupo, e para citar apenas alguns dos mais conhecidos, fazem parte, por exemplo, António Torrado (dramaturgo, poeta), Alice Vieira (poeta, ficcionista), Matilde Rosa Araújo (poeta, ficcionista), Maria Alberta Menéres (poeta),Luísa Dacosta (ficcionista) Manuel António Pina (poeta), José Jorge Letria (poeta, ficcionista, dramaturgo), Vergílio Alberto Vieira (poeta), João Pedro Messeder (poeta).

 

 

Praticamente em exclusivo para jovens escrevem hoje autores como António Mota, Luísa Ducla Soares, Violeta Figueiredo e a dupla Ana Maria Magalhães-Isabel Alçada.

Anteriores a eles, outros nomes, e de peso, constam da lista. Desde logo, e não recuando muito no tempo, os de Aquilino Ribeiro, Ilse Losa e Sophia de Mello Breyner Andresen.

 

 

Da pena fértil do primeiro (1885-1963) saíram títulos como “Arca de Noé – terceira classe”, “O Livro da Marianinha” e esse que é já um clássico do género, “O romance da raposa”.

 

Ilse Losa, escritora portuguesa de origem alemã, romancista e cronista de mérito, escreveu “A flor azul”, “Silka”, “Na quinta das cerejeiras”, “Faísca conta a sua história” e “A visita do padrinho”, entre outros títulos.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), um dos poetas maiores das Letras lusas, é autora de alguns dos títulos mais populares na Literatura do género, além de serem dos mais frequentemente inscritos nos currículos escolares. Entre eles, “A menina do mar”, “A fada Oriana”, “O cavaleiro da Dinamarca” e “O rapaz de bronze”.

 

 

Mais recentemente, outros escritores de nome feito na Literatura atenderam ao apelo da “escrita miúda” – e não saíram diminuídos da empresa.

Agustina Bessa Luís, com uma obra vasta e aplaudida de que constam “A Sibila” e “Fanny Owen”, entre outros títulos, escreveu para as crianças “A memória do giz”, “Dentes de rato”, “Vento, areia e amoras bravas” e “O dourado”.

 

Dois dos mais internacionais autores portugueses da actualidade, José Saramago e António Lobo Antunes, escreveram até agora só um livro para os mais novos: “A maior flor do mundo” – transposto para filme de animação em Espanha – e “A história do hidrovião”, respectivamente.

 

Também com uma só incursão no reino da escrita para a infância estão Lídia Jorge, com “O Grande voo do pardal”, e Manuel Alegre, com “As naus de verde pinho – Viagem de Bartolomeu Dias contada à minha filha Joana”.

 

Único é também “O homem que engoliu a lua”, de Mário de Carvalho. Podem juntar-se-lhe, no entanto, pelo menos três outros livros de contos do autor: “Casos do beco das sardinheiras”, “Fabulário” e “A inaudita guerra da avenida Gago Coutinho”.

 

A ideia de que as águas têm de ser separadas – livro para adulto é para ser lido unicamente por adulto e livro para adolescente é “livro para adolescente e ponto final” – teve o seu tempo. Perdeu todo o sentido, se algum teve antes.

 

Aceita-se hoje, sem dificuldade, que a aproximação – a convergência – é legítima e deve mesmo ser estimulada.

 

Um caso recentemente ocorrido em Espanha é, a este propósito, exemplar e elucidativo: “Só resta o amor”, um livro de contos – para adultos, a uma primeira leitura – do escritor galego Agustín Fernández Paz foi distinguido com o Prémio Nacional Literatura Juvenil.

 

Não se leu na altura, nos “media” espanhóis, qualquer nota de indignação e de protesto pela “mistura de géneros”.

 

Praticamente todas as grandes e médias editoras portuguesas têm uma ou mais colecções explicitamente dirigidas aos mais novos, centrando-se algumas delas na publicação de clássicos, maioritariamente da literatura estrangeira.

Os números das estatísticas não deixam margem a dúvidas: os livros para crianças vendem-se bem, o género tem futuro assegurado.

 

 

 

 

 

Lusa

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