As três câmaras de comércio dos Açores pedem um novo modelo de transporte aéreo para a região, sublinhando a necessidade de baixar o preço das tarifas para tornar o arquipélago mais competitivo.
O presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, Mário Fortuna, considera que o atual modelo de transporte aéreo entre os Açores e o continente “não funciona” porque “não proporciona as passagens aéreas aos preços a que todos aspiram” e “já deveria ter sido alterado há algum tempo”.
Para o economista e professor universitário, o modelo em vigor “limita fortemente o acesso ao mercado dos Açores” e “restringe o interesse” que o mercado açoriano possa ter para outras empresas de transporte aéreo que não aquelas que se candidatem à totalidade do sistema na região, porque implica assegurar obrigações de serviço público para as cinco ‘gateways’ (aeroportos com ligações para fora do arquipélago).
“Não é por acaso que são essencialmente as empresas públicas portuguesas [TAP e SATA] que se prestam a esta prestação de serviço, criando elas próprias o efetivo monopólio, um arranjo que não é positivo para a globalidade dos setores que dependem da competitividade dos transportes aéreos para a sua sobrevivência e competitividade”, sublinha Mário Fortuna.
“Este modelo torna o serviço pouco interessante para as companhias competitivas, o que retira do nosso mercado a concorrência que achamos que devia existir”, afirmou, acrescentando que se houvesse outras transportadoras a operar nos Açores, teriam sido “bastante úteis” face às recentes greves na SATA.
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo, Sandro Paim, defende também que se deve “repensar” o modelo de transporte aéreo entre Açores e continente face aos “constrangimentos” que apresenta.
“É preciso perceber as fragilidades que o atual modelo apresenta para o desenvolvimento normal da economia dos Açores”, declarou à Lusa.
O empresário considera que um novo modelo tem de passar, “acima de tudo”, pelo “aumento da competitividade” dos Açores ao nível de mercadorias e de transporte de passageiros, designadamente através da “redução” do preço das tarifas.
“É preciso repensar as obrigações de serviço público face ao existente e ao que pretendemos, bem como pensar a abertura a outras companhias aéreas para que não fiquemos dependentes de uma companhia regional que tem vivido momentos muito conturbados”, defende.
Sandro Paim considera que a SATA “prejudicou muito”, nos últimos tempos, “toda a economia”: “No futuro temos de repensar a SATA Internacional e a SATA Air Açores face à necessidade de mobilidade dos açorianos, porque vivem em ilhas, e aquilo que é a competitividade de um setor estratégico para os Açores que é o turismo. Neste momento, a SATA não está a responder a essas necessidades”, concluiu.
Também o vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria da Horta, Carlos Morais, é a favor da liberalização do espaço aéreo entre Açores e continente desde que “fique salvaguardado” que todos os açorianos pagarão a mesma tarifa.
A Câmara de Comércio e Indústria da Horta compreende as ilhas Faial, Pico e o núcleo empresarial Flores e Corvo.
“Se existir um outro modelo, que penso que poderá existir, com outro efeito no aumento das carreiras regulares entre as ilhas e o continente que possa baixar o preço da viagem, seria o ideal”, declarou.
Carlos Morais recorda o que foi feito na Madeira em matéria de transporte aéreo, o que considera que seria “positivo” para os Açores, uma vez que a concorrência “sempre foi salutar”.
O modelo de transporte aéreo em vigor entre o continente e os Açores voltou a constar da agenda política na sequência das recentes paralisações realizadas pelos trabalhadores do grupo SATA que, a par, da TAP, são as duas únicas companhias a operar neste mercado na sequência da imposição de obrigações de serviço público.
Lusa