O apresentador de televisão Carlos Cruz manifestou-se “completamente” tranquilo à saída do tribunal, onde se iniciaram as alegações finais do processo de pedofilia da Casa Pia, que esta segunda-feira de manhã foram quase totalmente dedicadas a este arguido.
“Quando se tem a consciência tranquila, fica-se muito sereno”, disse o locutor à saída do tribunal no intervalo para almoço da sessão, que prossegue à tarde.
Lá dentro, Carlos Cruz ouvira o procurador do Ministério Público (MP), João Aibéo, dizer que ficou provado durante o julgamento que Carlos Cruz “frequentava a casa do [arguido] Jorge Ritto”, onde alegadamente decorriam “orgias e bacanais” com jovens da Casa Pia.
João Aibéo observou ainda, na fase final da sessão, que a ida de Carlos Cruz aos telejornais das três televisões nacionais a 28 de Novembro de 2002, três dias após a detenção do principal arguido, Carlos Silvino, foi o seu suicídio. cymbalta versus zoloft
“Ofereceu-se à vista dos que o queriam comprometer (…) Se não tivesse ido à televisão, provavelmente não estaria envolvido neste processo”, disse.
Segundo o procurador, terá sido a exposição do arguido nessas entrevistas que fez os jovens avançar e imputar-lhe os crimes de que é acusado.
João Aibéo concentrou-se num episódio de 1982 – quando um casal de jovens da instituição foi encontrado na casa do embaixador Jorge Ritto – apesar de não ser incriminatório para nenhum dos arguidos.
O procurador justificou esta opção por, na sua defesa em relação aos factos em julgamento, os arguidos “não se limitarem a dizer ‘eu não fiz isto’, mas ‘nunca fizemos isto'”.
“Se se visse que já tinham feito, isso abalava a sua credibilidade” para se defenderem, frisou João Aibéo.
Citando testemunhos de jovens envolvidos no episódio de 1982, que deram a entender que havia outras figuras que de si abusaram, João Aibéo declarou: “Dou de barato que há outras pessoas envolvidas [nos abusos] que nem foram faladas, acredito piamente nisso”.
À saída do tribunal, o advogado de Carlos Cruz, Ricardo Sá Fernandes, escusou-se a comentar as alegações, limitando-se a dizer que “o procurador João Aibéo teve uma prestação de grande qualidade e é um grande magistrado”.
“Foram alegações úteis e de grande elevação”, disse Ricardo Sá Fernandes, que também fora elogiado no início das alegações pelo próprio procurador, que se referiu por diversas vezes à maneira como a defesa de Carlos Cruz conduziu os seus interrogatórios e se relacionou com o MP.
Um dos advogados de Carlos Silvino, Ramiro Miguel, realçou o esquema de alegações finais traçado por João Aibéo dizendo que “parece fazer todo o sentido dentro do raciocínio que tem seguido nesta fase”.
Lembrou que no decurso deste julgamento, Carlos Silvino, ex-motorista da Casa Pia, colaborou de forma activa com a Justiça e que continua a acreditar em tudo o que o seu cliente disse, acreditando que o mesmo se passará com o colectivo de juízes.
No recomeço da sessão após o almoço, João Aibéo passará a abordar outros temas, como os depoimentos dos educadores, peritos e polícia durante a investigação.
in Lusa/AOonline