Cavaco Silva desloca-se a Santa Maria, Graciosa, S. Jorge, Flores e Corvo, passando ainda por S. Miguel, onde preside à inauguração do Centro de Estudos Natália Correia, em Ponta Delgada, já sem a presença de Carlos César, que estará numa reunião do Conselho de Governo.
Esta visita ocorre quatro anos depois da primeira deslocação de Cavaco Silva aos Açores e depois de várias divergências públicas com o presidente do executivo regional.
O afastamento entre os dois começou em julho de 2008 quando Cavaco Silva pediu a fiscalização da constitucionalidade do Estatuto Político-Administrativo dos Açores (EPAA), que culminou com a declaração de inconstitucionalidade de oito normas do diploma, aprovado por unanimidade no Parlamento.
Uma declaração ao país de Cavaco Silva em finais de julho alertando para a possibilidade de estar em causa a separação de poderes e as suas competências constitucionais marcou o verão político e, mesmo depois de o Parlamento ter corrigido as oito normas, o Presidente da República vetou o diploma em finais de outubro.
Carlos César reagiu, acusando Cavaco Silva de fazer uma “dramatização excessiva” desta questão.
Em meados de dezembro de 2008, o Parlamento voltou a aprovar o EPAA, agora com a abstenção do PSD, e Cavaco Silva promulgou o documento, mas frisou que tem normas “absurdas” e “afeta o normal funcionamento das instituições”.
Carlos César respondeu dizendo que “seria um absurdo” o Presidente da República não promulgar o diploma.
Estas divergências sobre o EPAA marcaram as relações entre os dois e nem o facto de Cavaco Silva ter escolhido os Açores para passar férias com a família em junho de 2010 parece ter melhorado a situação.
Meses depois, em novembro de 2010, Carlos César anunciou a criação de uma remuneração compensatória para minimizar o corte nos vencimentos dos funcionários públicos decidido pelo Governo da República e Cavaco Silva reagiu admitindo que a medida poderia ser inconstitucional.
Na resposta, Carlos César acusou-o de “dividir os portugueses” lançando os do continente contra os do arquipélago, considerando que, em vésperas de presidenciais, Cavaco Silva estava numa “caça ao voto”.
Dias depois, o representante da República para os Açores vetou o Orçamento Regional para 2011 por discordar da norma que criava a remuneração compensatória, levando Carlos César a dizer que a decisão “bebe do centralismo e da propaganda nacional”.
A norma em causa acabou por ser reconfirmada pelo parlamento regional com os votos contra do PSD e uma abstenção do CDS/PP.
No início deste ano, poucas horas antes de Cavaco Silva chegar aos Açores na campanha eleitoral para as presidenciais, Carlos César criticou a “falta de consideração” do candidato por não se encontrar com os órgãos regionais nesta deslocação.
Durante a campanha, Carlos César acusou Cavaco Silva de não ser amigo dos Açores e chegou a garantir que não votaria nele “mesmo que fosse do PS”.
Mais tarde, no final da cerimónia de posse para o segundo mandato, Carlos César considerou que o discurso de Cavaco Silva foi “excessivamente cruel no diagnóstico” da situação do país e “pouco ousado na terapêutica”, deixando claras as divergências entre os dois.