A presidente do Instituto Nacional de Estatística (INE), Alda Carvalho, é a primeira a defender o fim do atual processo de recenseamento: “Era bom que o Censos 2011 fosse o último”. Em vez da “tradicional” recolha de informação junto da população, o futuro deverá passar pela utilização dos dados existentes nos organismos públicos. A ideia não é nova, pois estava perspetivado no decreto-lei do recenceamento que já não haveria Censos em 2021, referiu a responsável do INE. O processo de recenseamento que começou a ser planeado em 2006 e está a decorrer no país desde o início do mês deverá custar aos cofres do Estado “um pouco menos de 50 milhões de euros”. Para a presidente do INE, esse dinheiro podia ser poupado se se usasse a “informação administrativa” existente na Segurança Social, no Instituto do Emprego, no Cartão do Cidadão ou no Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). Mas, como estas bases de dados não foram pensadas para efeitos estatísticos, “é preciso primeiro estudar se existem lacunas”. O estudo da “qualidade” da informação existente e da possibilidade de a usar para fins censitários começou há mais de dois anos, conta Alda Carvalho. De acordo com a responsável, “esse trabalho está a ser feito” por técnicos dos diferentes organismos onde existem dados passíveis de serem usados, sendo “natural” que se venha a perceber que ainda não existe “toda a informação necessária”. “Era bom em termos de modernização do país, de produção estatística, de custos e de disponibilização de informação mais frequente que os Censos 2011 fossem os últimos”, defende a presidente do instituto responsável pelos processos de recenseamento da população e do parque habitacional. Além da poupança, ter informação sempre disponível e atualizada permite “uma tomada de decisão mais adequada, mais de acordo com a realidade”, lembra Alda Carvalho, explicando que “ao longo de dez anos as bases de amostragem das famílias vão-se degradando”. O demógrafo Leston Bandeira partilha da mesma opinião: “Já devíamos ter acabado com estes censos. Na Dinamarca, por exemplo, não têm recenseamentos desde os finais dos anos 80, porque eles cruzam as informações de sete ficheiros administrativos diferentes”. Para o especialista em fenómenos populacionais, “toda a informação que está nas mãos do Estado deve ser usada” de forma a permitir a existência de “ficheiros sempre atualizados”: “E assim poupava-se dinheiro e tempo”. Os Censos 2001 – XV Recenseamento Geral da População e V Recenseamento Geral da Habitação – foram para o terreno a 7 de março e, no final do próximo ano, será possível conhecer com exatidão informações como onde vivem os cidadãos, onde trabalham, quantos são e que estudos têm. Para o sucesso da operação, é preciso que os portugueses respondam aos inquéritos via internet até 10 de abril ou aos questionários em papel, que serão recolhidos até 24 de abril.
O recenseamento da população tal como existe tem os dias contados. Vários técnicos estão a estudar as bases de dados de entidades públicas para perceber se é possível, através do cruzamento daquelas informações, fazer uma fotografia da sociedade portuguesa.