Três meses após o deslizamento de terras que matou três pessoas no Faial da Terra, ilha de São Miguel, cinco famílias continuam realojadas em habitações com rendas pagas pelo Governo dos Açores.
“Estes cinco agregados familiares estão em habitações unifamiliares em regime de arrendamento na própria freguesia do Faial da Terra, estando a renda a ser suportada pela Direção Regional da Habitação. Duas famílias estão também a receber apoio psicológico uma vez que as restantes entenderam que não necessitavam”, disse à agência Lusa a presidente do Instituto para o Desenvolvimento Social dos Açores, Paula Ramos.
A 14 de março, um deslizamento de terras no lugar de Burguete, freguesia do Faial da Terra, concelho da Povoação, soterrou total ou parcialmente três casas e matou três pessoas. Na altura, outras casas da mesma zona, na base de uma encosta, foram evacuadas.
Paula Ramos adiantou que foram afetadas 17 famílias, cinco estão realojados em habitações unifamiliares no Faial da Terra e as restantes “tiveram a possibilidade de regressar às suas habitações após orientações das entidades competentes na matéria e retomaram as suas rotinas e estão a reorganizar as suas vidas”.
Em relação às 12 famílias que regressaram a casa, disse que “o núcleo de ação social da Povoação tem apoiado algumas”, através “de subsídios no âmbito da precariedade económica” devido a situações de carência relacionada com “desemprego e baixos rendimentos”, assegurando ainda “apoio psicossocial sempre que necessário”.
Maria Evelina, 70 anos e viúva desde dezembro, é uma das moradoras do Burguete que regressou a casa nove dias depois da derrocada que soterrou totalmente a moradia de dois dos seus vizinhos mais próximos, que não sobreviveram, e parcialmente mais outras duas.
Uma delas domina-lhe a vista que tem desde o seu pequeno pátio das traseiras. Está como ficou há três meses: com rios de lama (agora já seca), pedras e árvores a entrar-lhe pelas janelas e a parte do telhado que abateu.
“Mete horror”, diz, lamentando que a zona ainda não tenha sido limpa e retirado o entulho que, no caso da casa que ficou totalmente soterrada, se mistura com colchões e outros vestígios daquilo que havia no seu interior. “Tenho horror, nunca mais fui aí atrás”, repete.
Maria Evelina recorda a noite em que acordou “com aquele trambolhão”, saiu para a rua e, após momentos de silêncio, começou a ouvir os gritos dos vizinhos. Tentou telefonar para quem se lembrava a pedir ajuda e foi pelo seu pequeno pátio que outros habitantes da zona, primeiro, e os bombeiros, depois, acederam à casas afetadas e salvaram os sobreviventes.
Foi por uma janela que está quase em cima do muro de Maria Etelvina que saiu a família de Noémia Silva, depois de a derrocada lhe ter destruído metade da casa. Noémia, o marido e a filha estão alojados temporariamente numa casa no Faial da Terra, aguardando uma solução definitiva.
“Não me queixo de nada, ajudaram muito a gente”, afirma, à Lusa, lembrando que houve também muitas manifestações de solidariedade dos açorianos residentes dentro e fora do arquipélago.
Voltou ao Burguete para recolher as suas coisas, mas não conseguiu salvar tudo, porque “ao fim de um dia ou dois” a casa meia destruída começou a ser saqueada e vandalizada.
O presidente da câmara da Povoação, Carlos Ávila, explicou à Lusa que “a derrocada propriamente dita” ainda não foi limpa porque depois de 14 março continuou a chover muito na região e “os terrenos estão muito moles ainda”, esperando a autarquia retirar as lamas com a chegada do verão, quando estiverem “mais consolidadas”.
Entretanto, a câmara, em conjunto com os serviços de Ambiente e Florestais do Governo Regional, e na sequência de um relatório do Laboratório Regional de Engenharia Civil, cortou as árvores da encosta que está em cima do Burguete e está a limpar a vertente, para diminuir o risco de novas derrocadas.
O presidente da Junta de Freguesia do Faial da Terra, Paulo Nazaré, acrescentou que as árvores foram cortadas de forma a que não secasse a raiz, para “não criar espaços” e levar a que se soltassem ou caíssem pedras, por exemplo.
Lusa