Coliseu Micaelense comemora hoje 100 anos

coliseu micaelenseFoi a 10 de maio de 1917 que se ergueu um sonho, se concretizou um desejo, se motivou Ponta Delgada a novos entretenimentos, entre contornos e agitações de uma sociedade diferenciada. Símbolo da novidade no arranque do século, o Coliseu representa, nos Açores, o apogeu da utilização do ferro em plena arquitetura da cidade nos primeiros vinte anos do século XX, quer pelo seu uso aos níveis estruturais e decorativos, que veio substituir o sistema tradicional da construção de alvenaria, quer na extensa conceção dos varandins.

Em paralelo, a obra de armação metálica da grande cúpula, as escadarias, as cadeiras, e os trabalhos de madeira, cujo uso generalizado na construção civil teve o seu ponto de partida nas obras do Coliseu, inspiram o retrato mais íntimo do material de que são feitos os sonhos.

A juntar, um leque sumptuoso de decoração a cargo de artistas locais: Ernesto Canto da Maia, escultor, no baixo relevo do proscénio, isto é, um conjunto de inspiração clássica que inclui um par de figuras reclinadas tratadas ainda com o vigor naturalista dos seus primeiros trabalhos e de onde se depreende já um eminente sentido decorativo; Domingos Rebêlo, pintor, no pano de boca de cena, numa reprodução fiel ao modelo lisboeta congénere, com o carro apolíneo puxado por cavalos brancos.

Integrado no seio das chamadas arquiteturas de espetáculo, o Coliseu pertence ao grupo dos teatros-circo. A sua construção em Portugal data do século XIX com construções na Figueira da Foz (1884), Lisboa (1891), Coimbra (1891), Funchal (1911), Braga (1915) e Ponta Delgada (1917).

Edifício singular na forma arquitetónica, o desenho proposto revela, igualmente, o lado tradicional e eclético da arquitetura fim de século, com referência Beaux Arts. No exterior, segundo a professora universitária Isabel Albergaria, “as diferentes escalas do edifício, algo desconcertadas, a regularidade simplificada dos amplos vãos rasgados à maneira dos armazéns e fábricas, produzem um aspeto pesado e pouco elegante que se contrapõe à leveza e grandiosidade do salão de espetáculos sustentado pela cúpula metálica”.

Com efeito, muito embora expresso nos termos de uma “arte povera”, o conjunto dos elementos da construção do Coliseu traduzem noções de solidez, funcionalidade e inovação, reunidos numa obra única no panorama da arquitetura insular.

Em 1950, a maior casa de espetáculos dos Açores foi adquirida pela Companhia de Navegação Carregadores Açorianos, dirigida por Francisco Luís Tavares, que acabara de construir o novo teatro de Ponta Delgada. Passou aí, a designar-se Coliseu Micaelense e integrou depois a “Cinaçor”, da Fundação dos Botelhos De Nossa Senhora da Vida, sendo gerido por António dos Santos Figueira durante cerca de cinco décadas.

A partir dos anos oitenta, foi sendo progressivamente desativado, mantendo apenas os tradicionais Bailes de Carnaval (regularmente realizados desde 1922, com decorações a rigor, inicialmente a cargo do pintor Domingos Rebelo e, mais tarde, com a participação do cenógrafo José Vieira, até ficar completamente encerrado por avançada degradação das suas instalações).

Em 2002, a Câmara Municipal de Ponta Delgada, por iniciativa da sua presidente Berta Cabral, adquiriu o Coliseu Micaelense e promoveu a maior obra de recuperação da sua história de nove décadas, que decorreu essencialmente durante 2004, cujo projeto pertenceu a Rogério Cavaca.

Para trás, milhares de eventos, atores e atrizes, músicos e agrupamentos musicais regionais, nacionais e internacionais que marcaram vivências e memórias que, hoje em dia, estão vivas na sociedade micaelense e por todos os que, mesmo longe, mantêm a afinidade com as interações que esta casa de espetáculos representa, tais como os famosos e únicos Bailes de Carnaval.

Hoje, 100 anos após a sua abertura, o Coliseu Micaelense – aquele que nasceu e foi baptizado de Avenida – mantém, segundo Miguel Brilhante, “a missão dos seus obreiros de então, os empreendedores de agora”. E por tal, acrescenta que as comemorações deste centenário assentam em “preservar um património artístico que honre o seu passado; promover uma programação eclética que reconheça o seu presente; e projetar uma casa de memórias na memória dos que nos procuram no futuro.

É com base nestas premissas que, de acordo com o atual diretor-geral da maior casa de espetáculos dos Açores, “a programação das comemorações do centenário do Coliseu Micaelense tem tido forma, durante o ano de 2017, com 100 eventos multifacetados previstos até ao final do ano.

Em finais de abril, a centenária casa já tinha recebido mais de 22 000 espetadores e espera ainda no corrente ano manter uma programação memorável e diversificada para fazer jus à comemoração de uma data tão emblemática.

“Vamos honrar o passado fortalecendo a memória coletiva, enaltecer o presente com o nosso contributo massivo e projetar, em novas rotas e circuitos culturais, o futuro do nosso Coliseu neste mundo dito global”, conclui Miguel Brilhante.

O 100º aniversário do Coliseu Micaelense é celebrado esta quarta-feira com um agradecimento e reconhecimento público, por parte da Câmara Municipal de Ponta Delgada, a todos aqueles que, nas últimas dez décadas, contribuíram, de diferentes formas e intensidades, para a dinamização cultural de Ponta Delgada.

 

 

Açores 24Horas / NI

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