A Companhia das Ilhas inicia este ano um projecto de investigação, com o apoio da Direcção Regional da Cultura, sobre a obra de José Sebag (Horta, 1936-1989), autor com uma das obras mais intensas e originais da moderna poesia açoriana e portuguesa – infelizmente, pouco ou mal conhecida.
A investigação é coordenada pelo escritor e cientista social Carlos Alberto Machado, tem investigação especializada de Zetho Gonçalves e a colaboração científica de Marc-Ange Graff.
Esta investigação tem como finalidade recolher, tratar e preparar para publicação o espólio literário do escritor açoriano José Sebag. Além do espólio inédito, pretende-se pesquisar outro material, nomeadamente, em arquivos privados, bibliotecas e hemerotecas, e tratar criticamente o publicado (Planeta Precário e Cão Até Setembro), de forma a que a obra deste grande e original autor, a que não tem sido dada a devida importância, tenha, em breve, toda a sua obra publicada, de forma exigente, disponível para a geração que foi a sua, a presente e as futuras.
José Sebag, “poeta raro e de vida breve”, tem uma das obras mais intensas e originais da moderna poesia açoriana e portuguesa.” Infelizmente, pouco ou mal conhecida”.
Em Beja, para onde o seu pai foi mandado laborar nas Finanças, José Sebag fez o Liceu. Liceu bejense brilhante, alguma brilhantina no cabelo, óculos desde então, como convém a rapaz destinado à Faculdade de Direito de Lisboa. Amorios alguns, porém intensos, mas a pouco e pouco comidos pelas leituras de Fernando Pessoa, Sá-Carneiro, Cesário. E períodos de Profunda reflexão. E, em 1956, rompe com o Direito.
A partir de 1957, frequenta em Lisboa os cafés Gelo e o da cave do Martinho, onde se ancoravam alguns sobreviventes do surrealismo – Mário Cesariny, Luíz Pacheco, dá-se com pintores, escritores – vive outra vida. Nas Folhas de Poesia publicou o poema “Hino Gasto”, de um decandentismo propositado e provocatório, uma das pistas que levaram mais tarde Cesariny a incluí-lo na sua Antologia do Surrealismo-Abjeccionismo.
Em 1960, José Sebag parte, como comandante miliciano de infantaria, para essa Índia que quase já não havia.
E já em 1959 Sebag fizera, praticamente às escondidas, edição de autor, o seu Planeta Precário. Saudado com muita simpatia pelo crítico Gaspar Simões. Sebag, numa ida às ilhas, deitou borda fora quase toda a edição. Mais tarde explicava que o título estava desactualizado pois deveria ser antes o Planeta Preçário…
Depois… foi Angola, entre 1970 e 1974. Jornalista-repórter do Notícias de Luanda, lá teve, entre outros amigos Herberto Helder e Carlos Fernandes.
De regresso a Lisboa, passou a fazer programas culturais na Antena 2, actividade que manteve até morrer.
A sua experiência por Áfricas e Índias marcou a sua escrita e os seus projectos de escrita, na sua maioria não concretizados mas conservados nos seus manuscritos originais. Entre eles: “Poema da Solenidade”, 1955; “Canto para uma canção de rock português, com o pseudónimo Salomão Kussnacht, 1981; “Exercícios Respiratórios”, mais ou menos da mesma data, e também assinado Salomão Kussnacht, e transcrito em stencil (colecção Subsolo); um “Ciclo da Primavera”, algo anterior, não datado; “Pedra Pupilar”, impressões da surrealidade e do Café Gelo (colecção Subsolo), 1988 (?); “Cão até Setembro”, 1988-1989; “Azinhaga do Clavicórdio”, longa e incompleta narrativa e ainda, cremos que como últimos trabalhos, os poemas “Acerca de Outra Coisa”, esses nitidamente de 1989.
Cão até Setembro foi das poucas obras completadas por Sebag. A maioria dos poemas é de longa extensão, a temática a do círculo fechado em torno a objectos e sujeitos centrais, obsessivos, tais a solidão, a náusea do quotidiano, da imbecilidade, resquícios pungentes da infância e adolescência e a vagabundagem pelos mundos.
Açores 24Horas / Companhia das Ilhas