Cônjuges podem ser dadores de rins em vida

rim“Se tivesse hemodiálise nas Flores se calhar não tinha pensado tão seriamente em sujeitar a minha mulher a um corte”.

Luís Gomes, 31 anos, natural das Flores, é o primeiro açoriano transplantado com um rim, doado pelo cônjuge (a mulher) em vida.

 

 A disponibilidade da mulher, aproveitando uma maior flexibilidade da lei e a vontade em “levar a vida para a frente” na ilha de onde é natural, deram-lhe alento suficiente para uma espera que “até nem foi grande”.

 
Entre o diagnóstico da doença e o transplante passou-se um ano, durante o qual fez  hemodiálise, no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada.
Este é um entre muitos casos de doença renal crónica no arquipélago e nem todos são de sucesso.

 
“O transplante renal é sempre preferível à hemodiálise mas é bom que os doentes entendam a diálise como  uma forma de prolongar a vida de um órgão que deixou de funcionar, com alguma qualidade”.
O alerta é da nefrologista Madalena Baptista, que juntamente com a psicóloga Clínica Daniela Esteves e uma equipa de enfermagem e nutrição, levou a cabo, durante o dia de ontem, a primeira grande acção de sensibilização, em meio hospitalar, para os problemas da doença renal crónica, com especial enfoque na sua prevenção.

 
A doença renal crónica caracteriza-se pela existência de uma lesão renal ou pela diminuição do funcionamento dos rins que, no limite, pode conduzir à falência da função dos rins com necessidade de diálise ou transplantação.
Neste caso, a idade, a saúde e a compatibilidade são três palavras chave para o sucesso.

 

Habitualmente, só se fazem transplantes renais em doentes com menos de 65 anos e desde que o rim seja compatível. A maioria dos transplantes é feita com recurso a rins da cadáver mas também podem ser doados  em vida. Desde o verão de 2007 que os cônjuges entraram para a lista dos dadores autorizados, pois até então apenas familiares directos (pais, filhos e irmãos) podiam fazer doação destes órgãos. A compatibilidade é o “passaporte” para o transplante. De resto, Madalena Baptista adianta que “não é bom fazer-se transplantes de rins que não sejam totalmente compatíveis”.
O Hospital de Ponta Delgada é um dos três hospitais regionais onde se faz hemodiálise. Dos 84 hemodialisados, que frequentam a unidade de diálise três vezes por semana, quatro horas por dia, em três turnos diferentes, só 29 estão em lista de espera para um transplante.

Na sua maioria é uma população “muito jovem, muitos na casa dos 20” que aguardam a chegada de um rim compatível.

 
“Estão inscritos numa lista nacional e é frequente sermos informados às duas ou três da manhã de que o doente X ou Y tem de ir para Coimbra ou para Lisboa para receber um rim novo”, conclui a médica. As crianças, em regra, ficam fora desta lista pois quando os pais são compatíveis, o transplante ocorre de imediato. Aliás, os insuficientes renais açorianos, menores de 16 anos, são seguidos em Lisboa, no Hospital da Estefânia.
Os hábitos de vida pouco saudáveis podem concorrer para o aumento do número de casos. Educar para a saúde é a palavra de ordem. Entre as sugestões  pertinentes está a que deu mote à campanha que ontem decorreu em Ponta Delgada: “Pergunte ao seu médico pelos seus rins”.
Pessoas obesas e hipertensas são vulneráveis e apresentam maior probabilidade de ter a doença, que se manifesta silenciosamente. Com custos de vida e económicos avassaladores.

 

 

 

Carmo Rodeia ( in AOreintal)

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