Teresa Leitão falava na Praia da Vitória, onde está localizada a base das Lajes, numa sessão técnica sobre o processo de descontaminação na ilha Terceira, nos Açores, promovida pelo Governo Regional.
“O fogo já existiu. Estamos numa fase de rescaldo. Está a ser feita monitorização continuadamente”, adiantou, acrescentando que o Governo Regional e o Ministério da Defesa estão a gastar uma verba significativa para “garantir que não há reacendimentos”.
A iniciativa contou ainda com intervenções de investigadores da Universidade dos Açores e do Laboratório de Proteção e Segurança Radiológica do Instituto Superior Técnico, estando presentes também representantes da Câmara Municipal da Praia da Vitória, da empresa municipal Praia Ambiente e do Centro de Oncologia dos Açores, que não participaram no debate.
Em causa está a contaminação de solos e aquíferos provocada pela Força Aérea norte-americana na base das Lajes, identificada em 2005 pelos próprios norte-americanos e confirmada, em 2009, pelo LNEC.
Os trabalhos de descontaminação iniciaram-se em 2012.
Num debate aceso entre os oradores e o público, a investigadora do LNEC defendeu que é preciso ter cuidado com o “alarmismo social”.
“Não estamos preocupados com a contaminação, porque estamos numa fase positiva”, frisou.
Segundo Teresa Leitão, dos 42 locais inicialmente identificados como podendo estar contaminados, o LNEC considerou que apenas 21 mereciam continuar a ser analisados.
Destes, seis foram sujeitos a ações de reabilitação, dois foram desativados (condutas de combustíveis do Cabrito e da Covas das Cinzas) e dois estão ainda a ser sujeitos a ações de reabilitação (Porta de Armas e parque de combustíveis “South Tank Farm”).
De acordo com a investigadora, há 12 locais em reabilitação ou monitorização e no dia 18 de junho o LNEC iniciará sondagens em 10 desses locais, no âmbito de um estudo encomendado pelo Governo da República.
A assistir ao debate, Orlando Lima, antigo funcionário da base das Lajes, questionou a investigadora sobre a área intervencionada e monitorizada, acusando o LNEC de estar “a brincar com a descontaminação” e de analisar apenas a área não construída.
Em resposta, Teresa Leitão disse que só na área da Porta de Armas existem cerca de 40 piezómetros, que detetam os hidrocarbonetos a flutuar, extraindo-os.
A investigadora rejeitou que estejam a ser feitas apenas “operações de cosmética”, alegando que, por vezes, são retirados solos para serem tratados e só posteriormente esses locais são repavimentados, para “impermeabilizar os terrenos”.
Por sua vez, Francisco Cota Rodrigues, investigador da Universidade dos Açores, que está a desenvolver um estudo para o Governo Regional, salientou que a análise à água para consumo humano no concelho deteta valores de hidrocarbonetos abaixo do que é determinado na legislação portuguesa.
Ainda assim, disse que estão a ser feitas análises ao aquífero suspenso, numa zona em que existiu um depósito de lamas resultantes da lavagem de tanques de combustíveis (Pico Celeiro).
Segundo Cota Rodrigues, esse local fica perto de falhas tectónicas, o que faz com que aquela estrutura seja “muito permeável”, por isso os restos de combustíveis podem ter descido até ao mar ou podem ter sido intercetados pelo aquífero suspenso, correndo risco de vir a atingir dois furos de água que se encontram naquela zona.
Por sua vez, João Alves, do Laboratório de Proteção e Segurança Radiológica do Instituto Superior Técnico, responsável por dois estudos de monitorização radiológica na ilha, disse que, embora os resultados do segundo estudo realizado em março de 2018 sejam ainda preliminares, até ao momento não foi detetada radiação artificial.
Lusa