“Os deputados do PS chumbaram o pedido de audição [proposto pelo único deputado do PPM na Assembleia Legislativa dos Açores], por entenderem que o assunto já estava devidamente esclarecido nas duas notas publicadas pelo GACS sobre esta matéria e por entenderem também que não se justifica ouvir mais ninguém a este propósito”, justificou à Lusa a deputada socialista Marta Matos.
A deputada falava no final da reunião da Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho (CAPAT), que reuniu hoje na cidade da Horta.
Em causa estavam duas notícias, divulgadas pelo GACS (órgão de informação do executivo açoriano), nos dias 02 e 03 de fevereiro, relacionadas com a aterragem nos Açores, no dia 01 deste mês, de um avião particular, oriundo da China.
O avião em causa transportava 11 passageiros e três tripulantes, que foram impedidos de desembarcar noutros aeroportos onde tinham feito escala anteriormente (como medida de precaução por causa da possível contaminação do coronavírus Covid-19), mas foram autorizados a circular normalmente no arquipélago.
“É claro que o Governo está a tentar impedir que os deputados possam colocar questões importantes para o esclarecimento desta situação”, lamentou Paulo Estêvão, deputado do PPM no parlamento dos Açores.
O deputado acusa o GACS de ter “mentido” a propósito daquele voo, nomeadamente quando refere, na primeira notícia, publicada em 02 de fevereiro, que o avião tinha saído da China “há mais de 15 dias”, quando na verdade tinha partido “há apenas oito dias”, ou seja, ainda dentro do período de quarentena a que devia estar obrigado.
Apesar do voto contra dos deputados do PS, que estão em maioria na CAPAT, os deputados do PSD e a deputada independente Graça Silveira, votaram ao lado do proponente (PPM), a favor da audição do responsável pelo GACS, por entenderem que se justifica o cabal esclarecimento sobre as informações veiculadas pelo executivo socialista sobre aquele voo em concreto.
Também esta semana, duas outras comissões parlamentares (a Comissão de Assuntos Sociais e a Comissão de Economia) chumbaram, apenas com os votos contra do PS, a audição da secretária regional da Saúde, Teresa Luciano, e da secretária regional dos Transportes, Ana Cunha, ambas solicitadas pelo PPM, para prestarem esclarecimentos sobre aquele voo.
Em ambas as comissões, os deputados socialistas consideraram que “compete às autoridades de saúde da região, e não aos membros do Governo”, prestar esclarecimento sobre os contornos da operação nos Açores do voo proveniente da China, impedindo assim que as duas governantes fossem ouvidas no parlamento.
No dia seguinte à aterragem do avião particular no Aeroporto João Paulo II, em Ponta Delgada, a Direção Regional de Saúde garantiu que a escala nos Açores daquele aparelho “não constituía qualquer risco para a saúde pública” e que os passageiros daquele tinham sido devidamente acompanhados, sendo que, “nenhum deles” apresentava sintomas os vestígios de estar contaminado.
O coronavírus Covid-19 provocou 2.014 mortos e infetou mais de 75.000 pessoas a nível mundial.
A maioria dos casos ocorreu na China, onde o novo vírus foi detetado no final de 2019, na província de Hubei, a mais afetada pela epidemia.
Além de 2.006 mortos na China continental, morreram duas pessoas na região chinesa de Hong Kong, duas no Irão, uma nas Filipinas, uma no Japão, uma em França e uma em Taiwan.
As autoridades chinesas isolaram várias cidades da província de Hubei, no centro do país, para tentar controlar a epidemia, medida que abrange cerca de 60 milhões de pessoas.
Em Portugal, já se registaram 11 casos suspeitos, mas nenhum se confirmou.
Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), há 45 casos confirmados na União Europeia e no Reino Unido.
Lusa