Os tradicionais cozidos que são confeccionados na Lagoa das Furnas estão a sair crus, perante a perplexidade dos habitantes da freguesia e dos agentes da restauração.
O fenómeno está a preocupar a restauração do Vale das Furnas que, com base no seu conhecimento empírico, tenta explicar o que estará na génese do problema. João Amorim, do Restaurante Miroma, uma das casas mais conhecidas e procuradas no Vale das Furnas, apercebeu-se recentemente do fenómeno.
Existe naquele espaço uma Caldeira denominada dos Vimes, onde se coze, tal como o nome indica, vimes.
A caldeira “rebentou” e “começou a “alargar-se”, tendo a actividade no local sofrido uma “redução significativa” de energia térmica.
Perante este cenário, “por precaução” foram aumentadas as horas de cozedura das panelas.
A agudizar o cenário, na passada quinta-feira, foram depositadas nos buracos panelas dos restaurantes, cerca das 4h00, que foram retiradas às 12h30 “completamente cruas, conforme tinham entrado”.
“Estou neste negócio há cerca de vinte anos e nunca fui confrontado com um cenário destes”, refere João Amorim.
Aquele empresário perante a possibilidade de alguém ter aberto os buracos e ter entrado água, resultante da pluviosidade registada naquele dia, refere que “a caldeira estava seca e coberta”.
O proprietário de um outro restaurante, que prefere manter-se no anonimato e que utiliza diariamente as Caldeiras da Lagoa das Furnas, aponta a probabilidade do fenómeno estar relacionado com alimentos congelados, o que João Amorim repudia.”Nenhum dos meus colegas trabalha com alimentos congelados”, afirma.
Para Fátima Viveiros, especialista em geoquímica de fluidos do Centro de Vulcanologia da Universidade dos Açores, pode estar-se perante um “fenómeno localizado” no qual “aparentemente teve lugar uma descida de temperatura”.
“Provavelmente, o fenómeno está relacionado com a dinâmica de qualquer campo fumarólico. Ou seja, uma certa impermeabilização em profundidade que pode estar relacionada com os gases que, quando são libertados, deixam depósitos. O gás provavelmente poderá estar a escapar por uma zona lateral”, explica.
Fátima Viveiros esteve com uma equipa no local e refere que os valores emitidos pelas estações são normais, não havendo razões para preocupação.
“No momento actual, com base nos dados de que dispomos, não temos nenhuma anomalia que chame a atenção. Dar garantias da parte da sísmica não podemos porque os sismos não são previstos”, clarifica. Milhares de pessoas deslocam-se anualmente às Furnas para provarem o famoso cozido, que é já uma imagem de marca dos Açores, em termos turísticos.
João Alberto Medeiros (in AO)