As medidas decididas pelo governo e aprovadas esta semana pelo parlamento regional pretendem salvaguardar a retenção de água nos aquíferos da maior caldeira dos Açores, uma cratera de um antigo vulcão com quatro quilómetros de comprimento e 2,5 de largura.
Para o botânico açoriano Eduardo Dias, a solução deve passar pela “multifuncionalidade” da caldeira, considerando “fundamental a reflorestação das zonas altas, nomeadamente com turfeiras e plantio de árvores, para captar nevoeiro e água, bem como evitar a erosão dos terrenos”.
Eduardo Dias, defendeu ainda que a silvopastorícia “é a actividade económica desejável” para aquela zona.
O governo açoriano pretende com as medidas agora decididas criar condições para a recomposição das antigas turfeiras, o que permitirá aumentar a retenção da água a longo prazo.
Assim, nos próximos dois anos é proibida a construção de edifícios e a limpeza de terrenos para criação de pastagens (arroteamento), sendo também interdito o derrube de árvores em maciço, a abertura de novas vias ou a extração de inertes.
Nos dois últimos anos o concelho de Angra do Heroísmo foi afetado pela falta de água, para consumo público e para as explorações agrícolas, o que foi atribuído a uma diminuição acentuada na água disponível para distribuição.
Um dos maiores especialistas nacionais em recursos hídricos, Lopo Mendonça, considerou que o problema resultou da conjugação da fraca pluviosidade com os arroteamentos de terras das nascentes de água, que frisou ser “uma prática indesejável e prejudicial ao regime de águas”.
Para Eduardo Dias, que dirige o Gabinete de Ecologia Vegetal e Aplicada (GEVA) da Universidade dos Açores, as medidas de emergência decididas pelo governo açoriano permitem ganhar “tempo para pensar e decidir”.
Nesse sentido, para evitar ruturas, defendeu a criação de um “plano de gestão do uso das terras sem prejuízo dos agricultores”, que terão que fazer um “uso menos intensivo das terras”, através de “incentivos à reflorestação”.
Para o presidente da Associação Agrícola da Ilha Terceira, Paulo Ferreira, ainda que a zona seja ocupada em mais de 90 por cento da área por gado bravo (touros), “qualquer prejuízo para os produtores deve ser indemnizado”.
“Compreendemos que precisamos de boa água para a população e para os animais, mas os prejuízos decorrentes, por exemplo, do impedimento da renovação de pastagens, deve ser indemnizado”, alertou.
Paulo Ferreira considerou ainda que “está fora de questão” retirar as explorações agropecuárias daquele local, defendendo a necessidade de “esclarecer com precisão o que é que as licenças permitem e o que está proibido”.
A Caldeira Guilherme Moniz, que é a cratera do extinto vulcão ‘Moirão’ ou ‘Nasce Água’, além de ser o maior reservatório de água da Terceira, possui uma flora indígena tida por única no mundo.