Cria-se mais e melhor em tempos de crise – José Wilker

josewilkerA crise económica não prejudica a produção cultural porque “se cria mais e melhor” quando se está em crise, defendeu o ator brasileiro José Wilker, convidado especial da 3ª Edição do Douro Film Harvest deste ano.

Em entrevista à Lusa durante a cerimónia de lançamento do festival no Rio de Janeiro, o ator, que possui mais de 50 anos de carreira, diminuiu os efeitos que a crise financeira pode causar na produção artística portuguesa e previu um cenário ainda mais criativo durante a turbulência económica.

“Em relação à cultura e ao cinema em particular, com exceção de talvez um país, o normal, o comum, o diário, é que se viva em crise e é isso que faz a gente ir bem, porque a gente cria mais e melhor quando em crise”, defendeu.

Com 49 filmes e 29 telenovelas em seu extenso currículo, Wilker também enfrentou momentos complicados no cinema brasileiro que, segundo ele, “está permanentemente em crise”.

Ele destaca que, ainda assim, o país consegue manter atualmente uma média de cem filmes produzidos por ano, que atingem a uma fatia de, pelo menos, 25% do público nacional.

“No Brasil, o cinema está em permanente crise, e eu sei que o cinema em Portugal tem grandes dificuldades, a cultura em Portugal, quando não é patrocinada por uma Fundação Gulbenkian tem grandes dificuldades, mas os demais países também têm”, comparou.

“A cultura em Espanha também tem (dificuldades), não fossem as ‘telefónicas’, a cultura na França (também), não fosse o canal Plus. Pelo mundo fora, a produção cultural é muito preterida, muito colocada em segundo plano, mas isso nos torna melhores”, completou.

Wilker viveu durante um ano em Portugal, na década de 1990, quando filmou, a convite de João Canijo, ao lado de Rita Blanco, a longa-metragem “Filha da Mãe”.

Entre os seus trabalhos mais conhecidos encontra-se Vadinho, personagem amante de Sónia Braga em “Dona Flor e seus dois Maridos” (1976). Baseado na obra de Jorge Amado, o filme de Bruno Barreto esteve durante mais de 30 anos na lista das produções brasileiras mais vistas de todos os tempos, a perder somente este ano para “Tropa de Elite 2”.

Entre o público português, no entanto, a popularidade de Wilker se deve em grande em parte às telenovelas que protagonizou, sendo as mais recentes “Fera Ferida” (1993), “A Próxima Vítima” (1995), “Suave Veneno” (1999) e “Desejos de Mulher” (2002), após aquelas que firmaram o seu nome: os desempenhos de Roque Santeiro, da telenovela homónima da Globo, e o Doutor Mundinho, de “Gabriela Cravo e Canela”, que estreou o género em Portugal.

A próxima edição do encontro de cinema do vale dos vinhedos do Douro — o Douro Film Harvest — será realizada entre 05 e 11 de setembro deste ano, em Portugal.

O Brasil é o país convidado da edição e contará ainda com a presença do realizador Cacá Diegues.

À Lusa, Diegues também destacou o papel da cultura durante os momentos de dificuldade: “A cultura é um amálgama, é uma coisa que junta as pessoas e eu acho que é na crise que a gente mais precisa dela”, completou.

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