“Os turistas entram nas camionetas na doca para viagens organizadas ao pontos turísticos mais importantes de S. Miguel e regressam à cidade na altura do barco partir”, lamentou uma vendedora da Casa Regional Ilha Verde, que vende artesanato e artigos para turistas na baixa de Ponta Delgada.
Na Loja de Artesanato, que tem dois estabelecimentos no centro histórico, Susana Carvalho expressou a mesma opinião, salientando que os poucos turistas que ficam na cidade “dão uma vista de olhos e andam”.
Na maioria dos casos, os navios de cruzeiro que passam por S. Miguel chegam de manhã cedo e partem ao final da tarde e os turistas que trazem “veem os pontos mais interessantes da ilha e lancham o que trazem do barco”.
O proprietário do Capote e Capelo, outra loja dedicada à venda de artigos para turistas, apesar de considerar que, “quanto mais gente vier melhor”, também admitiu não ter ganhos especiais com a escala de navios de cruzeiro.
De igual modo, para as empresas de aluguer de viaturas os cruzeiros estão longe de constituírem um grande negócio, uma vez que o pouco tempo que os turistas passam em S. Miguel é organizado em excursões de grupos.
“Sempre se alugam três a quatro carros por barco”, frisou Carlos Calado, do Grupo Ilha Verde.
Este quadro faz com que os comerciantes contactados pela Lusa tenham afastado a possibilidade de abrir as lojas ao domingo sempre que se encontre um navio de cruzeiro na cidade, alegando que são mais os encargos do que os benefícios.
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada (CCIPD), Mário Fortuna, confirmou que é essa a indicação recebida dos associados, valorizando a presença dos Açores na rota dos cruzeiros sobretudo pela sua vertente promocional.
“Há o registo da experiência de um dia na ilha”, afirmou, salientando que a publicitação das escalas de cruzeiros na página da CCIPD resulta da importância de informar os empresários com antecedência sobre a presença de grupos numerosos de eventuais clientes.
Para receber estes navios em Ponta Delgada, o governo regional promoveu a construção de um cais de cruzeiros, integrado nas Portas do Mar, que inclui lojas e zonas para exposições e concertos, num investimento global superior a 60 milhões de euros.
Mário Fortuna admitiu que as características que revela atualmente a escala de navios de cruzeiro na cidade não perspetiva a rentabilização deste investimento, que também serve os navios de passageiros que viajam entre as ilhas do arquipélago no verão.
Este ano, a escala de navios de cruzeiro em Ponta Delgada tem uma maior concentração em abril, com 19 escalas previstas, mas prolonga-se até 30 de dezembro.