O arquipélago dos Açores regista uma taxa de denúncias de casos de violência doméstica dois terços superior à média nacional, números que estão a ser analisados por especialistas para “compreender melhor” esta realidade e as suas causas.
“Nos últimos dois anos, os casos reportados às forças de segurança situam-se dois terços acima dos valores médios nacionais”, revelou esta segunda-feira Paulo Machado, da Direcção-Geral da Administração Interna, em declarações aos jornalistas, em Ponta Delgada.
Fonte policial disse à agência Lusa que a PSP registou no ano passado 1.200 denúncias de violência doméstica nos Açores.
Paulo Machado, que falava à margem do colóquio ‘Violência Conjugal’, integrado num estudo que o Centro de Estudos Sociais da Universidade dos Açores está a desenvolver, salientou que os Açores “não são um caso estranho”, mas frisou que “é preciso compreender” esta taxa de incidência, muito superior à média nacional.
“Vamos compreender em profundidade algumas situações tipo, como é o caso das características sociais e individuais que estão associadas às situações de violência”, explicou o investigador, acrescentando que o estudo foi iniciado em finais de Janeiro e deve ficar concluído em Novembro.
Na perspectiva de Paulo Machado, o melhor conhecimento da realidade associada aos casos de violência doméstica também permitirá que a Polícia de Segurança Pública (PSP) melhore a sua actuação nesta área.
Por seu lado, a coordenadora do projecto, Piedade Lalanda, considerou que o fenómeno assume taxas superiores nas ilhas açorianas devido a uma “intervenção melhor” do que a que ocorre no Continente.
“Não nos podemos esquecer que a região foi pioneira na criação de uma casa abrigo para mulheres vítimas de maus tratos, em 1997, quando no Continente só mais recentemente é que se começaram a difundir”, sustentou.
Piedade Lalanda defendeu ainda que existe no arquipélago “uma maior proximidade” entre os serviços de acolhimento e os habitantes, que pode estar na origem de um maior número de denúncias.