Dívidas podem “sufocar” produção

lavoura
O acumular de dívidas está a tornar-se um problema bastante sério na agricultura açoriana. Muitos produtores micaelenses assumem estar já “com a corda ao pescoço” porque, com o passar do tempo, são cada vez maiores as  dificuldades no cumprimento de compromissos assumidos com banca e não só.

 

 

 

“Investi muito na modernização da minha exploração mas não estou a conseguir rendimento suficiente para pagar os empréstimos e os juros deles”, revela Pedro, um produtor da costa norte da ilha que também assume já somar avultados montantes em dívida no que respeita a outros encargos necessários à produção, como é o caso de adubos e rações.

“Tudo indicava que isso acontecesse porque nos últimos anos os factores de produção aumentaram imenso quando o contrário se passa com o que  as indústrias nos pagam pelo leite. E assim, de ano para ano, vamos complicando as nossas contas e , sobretudo, a nossa vida”, argumentou João Raposo, ontem, junto ao posto de recolha dos Arrifes.

Mesmo ao lado, Manuel Oliveira também não se apresentava muito satisfeito com o actual momento da lavoura. “Se tivesse hoje 20 anos não estava nesta actividade. Existem os projectos para incentivar os produtores mas vamos comprar um tractor, por exemplo, vamos buscar o dinheiro à banca e depois temos de esperar meses e meses para receber o apoio. O problema é que quando este chega é para o juro”.

Aliás, nos contactos que o Açoriano Oriental estabeleceu com os agricultores, a queixa mais recorrente, depois da subida dos custos de produção e da redução do preço pago por litro de leite, é mesmo a dos atrasos no pagamento de apoios e subsídios. Ilídio Ferreira não se coibe de afirmar que estes chegam cada vez  mais tarde, sobretudo numa época em que são tão necessários.

“Está tudo cada vez mais caro e o que se recebe no final do mês não chega para tudo. Depois, com juro em cima de juro, é falência total”, desabafa.

É que, se noutros tempos os apoios eram encarados como um complemento ao rendimento do produtor, hoje em dia, são imprescindíveis em algumas explorações. “Penso que todos estamos à espera de subsídios. Eu faço isso: guardo certos pagamentos para liquidar na altura em que receber os apoios”, assume Laudalino Soares, para quem o “apertar do cinto” já começou muito antes de se ouvir falar em crise.

“Muita dívida pode ser a desgraça dos lavradores e, por isso, é preciso controlar. Ando há mais de duas décadas nesta vida e vejo pessoas, com menos anos de trabalho e com micro-empresas, ter outras coisas e regalias que a agricultura não consegue ter”.

E quando confrontados com a possibilidade de recorrerem à linha de crédito anunciada pelo Governo Regional para minimizar os efeitos da crise que, ao que parece, também já se instalou na  lavoura, os agricultores mostram-se reticentes. Apesar de  considerar que essa linha pode servir de alívio a alguns produtores,  Manuel Oliveira diz não estar disposto a recorrer à mesma. “Aquilo é dinheiro para pagar também”, argumenta.

“Essas linhas são quase ‘para inglês ver’ porque os bancos acabam sempre por ficar a ganhar”, reage Laudalino Soares. Instado a comentar as queixas dos produtores, o presidente da Associação de Jovens Agricultores Micalenses (AJAM) refere, no que concerne aos atrasos nos subsídios, que a questão podia ser resolvida se a Secretaria Regional da Agricultura e Florestas(SRAF) fosse, por exemplo,mais deligente na coordenação das fiscalizações. No que respeita ao endividamento, o líder da AJAM considera que o problema não se resolve com a linha de crédito  “da qual ainda pouco ou nada se sabe”. “Pagar uma dívida com outra dívida pode  ser uma ilusão, levando as explorações à falência mais depressa”, refere, alegando que essa linha deveria  servir para a reestruturação de muitas explorações que enfrentam sérias dificuldades.

Luisa Couto  (in AOriental)

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