É uma mistura de clube literário e de striptease. No Naked Girls Reading Club lê-se D. H. Lawrence ou Anaïs Nin em bibliotecas e bares, sempre sem roupa. Michelle L’Amour explica-nos como tudo começou.
“Estão mesmo nuas. Não estava nada à espera.” A reacção é dos participantes de uma sessão de leitura de contos infantis, poesia e ficção científica quando se deparam com uma fila de mulheres sem roupa a declamar. É que quando pensamos numa sessão de leitura nunca a visualizamos tão arejada. O que nos vem à cabeça é uma biblioteca enorme, com um silêncio sepulcral e pessoas com óculos na ponta do nariz e voz de rádio. Nada mais longe da realidade. Quem vai assistir a uma sessão das Naked Girls Reading (Raparigas Nuas a Ler) encontra um grupo de raparigas de livros na mão, saltos altos e mais nada. Mesmo mais nada. Roupa? Nem vê-la.
“Quem nos vem ver adora. Não sabem muito bem o que esperar, mas recebem um espectáculo à altura do que pagam [cerca de 20 euros], o que é gratificante. Eles ficam entusiasmados com a literatura e com mais vontade de ler”, explica-nos por email a fundadora do grupo, Michelle L”Amour. Será este o melhor remédio para quem não tem paciência para ler?
Burlesco
O objectivo do clube era muito simples: “Criar um salão para estimular as pessoas em muitos níveis, com mulheres bonitas, literatura bonita e uma atmosfera bonita”, diz Michelle ao i. A ideia da stripper do burlesco e do escritor e fotógrafo Frank Vivid tornou-se realidade há um ano e meio, em Chicago, nos EUA.
A primeira sessão foi no “Studio L”amour”, de Michelle, mas o clube literário já chegou ao Canadá e está espalhado por várias cidades norte-americanas, como Los Angeles, Nova Iorque ou Dallas. “Estamos a tentar chegar ao Reino Unido, mas há alguns problemas legais.” Provavelmente por estarem nuas num local público, acrescentamos nós.
No menu literário das cinco meninas – além de Michelle, fazem parte do clube veterinárias, designers e bibliotecárias – estão livros como “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, de Robert Louis Stevenson, “Diário de Anne Frank”, “Lolita”, de Vladimir Nabokov, “Onze Minutos”, de Paulo Coelho e os livros de D. H. Lawrence e Anaïs Nin. As sessões são abertas ao público, mas têm o limite de 120 pessoas. Coisa pouca. Mas se por acaso está a pensar em inscrever-se para ser uma das jovens a ler sem roupa, não é fácil. “Nem toda a gente pode ler. Temos ensaios e muitas reuniões antes da sessão. Mas as mulheres adoram. Durante a sessão sentem-se livres e mágicas. É uma óptima experiência partilhar algo de que gostamos de forma apaixonada com uma audiência atenta”, explica Michelle.
Mas a dúvida persiste. Quem vai a uma sessão destas liga alguma coisa à literatura? “Acho que as pessoas estão atentas às duas coisas. A minha reacção preferida no público é quando as pessoas ficam espantadas por estarmos mesmo nuas. Rimo-nos imenso. É que está no título.” O fenómeno já foi baptizado de genial e a “Time Out” nova-iorquina profetizou que a moda ia pegar. Michelle deixa o aviso: “Sabemos que os italianos gostam. Se calhar um dia destes ainda vamos a Portugal.”
Jornal i/online