O diagnóstico ficou claro para o empresário Roberto Couto no almoço que juntou ontem em Vila Franca cerca de vinte empresários com negócios no sector. E o remédio, sustenta, passa por medidas com efeito imediato.
O encontro, resultante da iniciativa do empresário vilafranquense, pretendeu gerar a partilha das dificuldades, com o objectivo de concertar estratégias. Um espaço de debate ao almoço pareceu-lhe ser o mais adequado porque, explicou, “há aqui empresas que nunca passaram por dificuldades e, agora que estão a senti-las, têm muita dificuldade em pô-las cá para fora, mas fazem-no num ambiente descontraído”.
E a verdade é que sentar à mesma mesa os responsáveis por cerca de 2500 postos de trabalho produziu alguns frutos: “chegamos à conclusão que temos todos o mesmo problema: falta de dinheiro” e que “já não temos capacidade para estar muito tempo à espera” que as medidas de combate à crise anunciadas comecem a produzir efeito.
Segundo Roberto Couto, os apoios criados pelo Governo Regional para dar resposta às dificuldades dos empresários são processos “complicados” e, por essa razão, não produzem efeito imediato. Não acredita por isso que resolvam o problema de fundo do sector da construção civil. E deixa o alerta: “medidas milagrosas que apareçam daqui a seis meses podem já não servir para ninguém”. Do seu ponto de vista, o problema de fundo do sector e “que está a ter efeito dominó, chama-se stock imobiliário”. E as soluções têm de se focar no património imobiliário que as empresas não conseguem fazer escoar no mercado, defende, pois “se a solução não passar de uma forma muito breve pelo stock imobiliário os problemas vão continuar”.
A criação de um fundo imobiliário pode ser a solução, mas não deverá ser a única, sustenta ainda. Como defende Roberto Couto, “é necessário pacificar, de imediato, a banca, e isso consegue-se criando expectativas. É preciso transmitir à banca que a solução do stock imobiliário há-de acontecer”. Para o empresário, são também necessárias alterações estruturais no sector. Contudo, ressalva, “são alterações de longo prazo que exigem mudanças legislativas”, e os empresários, neste momento, não podem esperar que comecem a fazer a efeito.
No almoço que serviu para preparar uma reunião da AICOPA – Associação dos Industriais da Construção e Obras Públicas dos Açores, agendada para a próxima sexta-feira, Roberto Couto apresentou um documento onde não só se enumeram as preocupações do seu grupo empresarial, mas também se avançam algumas ideias sobre como fazer frente aos efeitos da actual crise financeira. Com o título “Almoço Tá na Hora- É nas crises que se criam as grandes estratégias”, o documento defende que é preciso “acabar com o mito de que a legislação não permite tratamento diferenciado” das empresas da Região nos concursos públicos para adjudicação de obras. Sugere-se que sejam as próprias empresas a criar um fundo imobiliário e ainda que as empresas encontrem um modelo de financiamento/recebimento que melhore a sua liquidez através de uma associação ou agrupamento de empresas, com poder negocial, que também contribuísse para estabilizar custos (resultantes de juros, seguros, aluguer de equipamentos e materiais). E avança-se também com a ideia de adoptar na Região critérios para a avaliação dos alvarás diferentes dos utilizados a nível nacional.
No almoço de ontem, ficou acordado desenvolver as propostas esboçadas, para apresentar na reunião de sexta-feira, um novo documento que enumere medidas de efeito imediato, medidas de curto prazo e medidas de longo prazo.
Paula Gouveia (in AOriental)