De visita às ilhas do Triângulo e a São Miguel, esteve na passada semana um grupo de empresários luso-canadianos, cujo objectivo principal foi o de conhecer in loco o Produto Açoriano, considerado por todos, produto de grande qualidade, e de examinar as suas potencialidades no mercado canadiano, “satisfazendo o mercado da saudade lá e apoiando a economia cá”.
A expressão é de José Ferreira, Presidente do Portal Adiaspora, associação luso-canadiana que juntamente com a Câmara do Comercio e Industria da Horta (CCIH), tornaram possível esta missão, aproximando realidades díspares, mas que se podem complementar através de um intercambio comercial, possibilitado por esta humanização de contactos face to face, com os empresários locais.
Ângelo Duarte, presidente da CCIH, assegura que esta visita foi estrategicamente delineada, dando a conhecer a “nossa matéria-prima, as industrias, o produto final e a partir daí a degustação”. Após este dias de trabalho, este grupo empresarial terá “a percepção do que os Açores tem para oferecer, e com a vossa ajuda irão fazer crescer a nossa economia, ajudando a fixar as populações”, defendeu ainda.
Entre 19 e 25 de Maio, visitaram 4 indústrias em São Miguel, com especial destaque para a produção do Chá, vincando a ausência de resíduos pesticidas na sua cultura, uma mais-valia para o consumidor final. Em São Jorge visitaram o sector conserveiro e o sector do Queijo, acontecendo o mesmo no Pico, onde para além do fabrico do Queijo visitaram a serração de pedra basáltica, a Adega da Buraca e a Cooperativa vitivinícola da Ilha.
No Faial, para além de visitas a mais de 6 empresas/instituições de sectores variados como sendo a panificação, Imobiliária, Lacticínios entre outras, participaram em 3 seminários e estiveram presentes no lançamento do Livro “O Mundo que eu vi…”, de Genuíno Madruga, que será também lançado no Canadá.
Nas ilhas que visitaram tiveram oportunidade de conhecer os museus, escolas de artesanato e usufruir dos locais de vista privilegiada, agradando assim também aos empresários do sector do Turismo presentes na delegação.
Ainda no Faial visitaram a Escola de Formação Profissional da Horta(EFPH), onde José Ferreira ofereceu em nome de Adiaspora, á Biblioteca da EFPH uma colecção de livros, de autores luso-canadianos, com a garantia de fazer chegar doravante os novos livros que forem lançados, independente da língua em que forem escritos, fomentando a literatura bilingue, para que por cá se conheça o que por lá se escreve.
Recebidos pelo Presidente do Município da Horta (CMH), a recepção no Salão Nobre da Câmara evidenciou a presença de Alexander Bigham, Vereador da Câmara Municipal de Lambeth (Londres), onde se situa o bairro conhecido por “Little Portugal” devido à numerosa comunidade portuguesa, e onde vai ficar albergado o Comité Olímpico de Portugal durante os Jogos Olímpicos de Verão de 2012.
A acompanhar Bigham, esteve Adelina Pereira, dirigente do Centro Português de Apoio à Comunidade Lusófona e «Portuguese Speaking Comunities Champion», em Lambeth. Adelina é a responsável por um projecto que visa homenagear Catarina de Bragança, que foi rainha consorte de Inglaterra e Escócia (séc.XVIII). Este evento levará para Londres, um busto da rainha Catarina, esculpido por basalto açoriano, pelas mãos de José Francisco Pereira, radicado no Faial. Durante a apresentação desta obra á cidade de Lambeth, que Adelina pretende se realize no 350º aniversário do seu casamento com o rei D. Carlos II (22/05/1662), será servido chá açoriano, a portugueses e ingleses, garantiu a mesma.
Os convidados
Para além do já referido Vereador da Câmara Municipal de Lambeth (Londres), Alexander Bigham, e de Adelina Pereira, fizeram parte da delegação visitante Ana Bailão – Vereadora da Câmara Municipal de Toronto, Zita Cardoso – Presidente da Associação Comercial do Machico (Madeira), Isabel Martins – Presidente da “Federation of Portuguese Canadian Business and Profissionals” (Toronto) e Rui Baptista – Comunicação Social (Boston) e William Moniz – Comunicação Social (Toronto).
“A alta qualidade e know-how, e a visão bastante actual excederam as minhas expectativas”, confessou Isabel Martins após a visita às várias indústrias e empresas.”Os produtos açorianos tem lugar no mercado canadiano”, considerou.
Impressionada com tudo o que viu, ficou também a Vereadora da Câmara de Toronto, Ana Baião, que considera esta uma ”espectacular forma de aproximar empresas que já tinham relações empresariais mas que não se conheciam pessoalmente, é uma relação que vai beneficiar as nossas comunidades, no sentido em que quando temos uma comunidade que conhece melhor de onde vem percebe melhor a sua cultura, e isso faz-se através produtos, da língua, das tradições. Dessa maneira ajudamos a Região Açores na exportação e no turismo”. Ana Baião referia-se essencialmente á segunda geração, que já tendo nascido no Canadá, necessita/procura uma ligação á cultura dos seus pais.” Existe melhor embaixador do que os portugueses e luso-descendentes que vivem por esses países e que são quase metade do numero dos portugueses que vivem em Portugal?”, questiona em jeito de resposta.
Com esta viagem, Ana Baião ficou mais sensibilizada com a questão das cotas de exportação do queijo e com a sua entrada do mercado canadiano, podendo ser uma mais-valia junto aos deputados federais que são quem legislam sobre esta matéria, uma vez que essa não é uma questão camarária. “ É um trabalho que tem que ser feito agora junto aos políticos”, assumiu.
Também Ilhéu, Zita Cardoso, considera que esta missão aproxima economicamente o Canadá de Portugal. “Sendo madeirense, é importante perceber o que nos une e o que podemos beneficiar mutuamente e cada vez mais aprofundar e reafirmar as nossas realidades. Não podemos estar de costas voltadas, somos um todo atlântico, no fundo somos 11 ilhas portuguesas, uma feira atlântica, essa é uma importante mensagem a passar aos nossos associados”, defende.
Zita Cardoso é autora do livro “Símbolos da Autonomia dos Açores”, que será agora reeditado. “É a terceira edição, uma edição refrescada, que pretendo que seja impressa e lançada nos açores, porque defendo que devemos consumir o que é nosso, fazendo todo o sentido que renasça no espaço que o fez criar”, arremata.
Os empresários visitantes
Os empresários que nos visitaram são de diferentes áreas de negócios, sendo que todas elas foram beneficiadas pelo contacto com empresas locais de especialidade similar.
António Belas e Fernanda Pereira – empresários na área dos vinhos (Toronto), Mário Gomes e Maria Isabel Gomes – empresários na área dos enchidos (Toronto), António Gomes – Comunicação Social e empresário na área dos vinhos (Toronto), José Rosa – empresário na área de embarcações de recreio (Toronto), Joaquim Carvalho – empresário na área da Panificação e Pastelaria (Toronto), José Catalarranas e Marina Candeias – área de Agente de Viagens (Toronto) e Manuel Sousa – empresário na área Imobiliária (Toronto).
Chegou á Conserveira Santa Catarina em São Jorge, estudou o produto que estava a ser apresentado, escolheu aquele que mais se identifica com os seus clientes e fez a encomenda. António Belas, considerado por José ferreira o maior importador de produtos açorianos no Canadá, aproveitou a oportunidade para conhecer os fornecedores com quem já trabalhava, esta é aliás, a sua filosofia de trabalho – “eu ainda acredito no contacto pessoal entre pessoas, entre seres humanos, …, sei que vivemos numa época diferente, num mundo diferente. Ele vê o produto na Internet. Eu quero vê-lo ao vivo, quero cheirá-lo, manuseá-lo”, disse um dia, referindo-se ao filho a quem um dia passará o destino da empresa. E foi essa a postura que teve durante esta visita, quando comprou atum em conserva, queijo, vinho e peixe. Sobre o peixe, serão exportados 500kg semanalmente até ambas as partes perceberam a capacidade de resposta tanto do fornecedor como do mercado. Aquando da sua viagem aos Açores, Belas já recebia semanalmente 3 contentores de queijo oriundos de São Jorge.
Quando recebeu nas suas instalações no Canadá o Presidente da Câmara das Lajes do Pico ( CMLP), Joaquim Carvalho não imaginava que estaria prestes a transformar-se no homem que criou três receitas que farão parte, a partir de agora, da doçaria tradicional da Ilha do Pico. “O convite do Eng. Roberto Silva desafiou-me a criar numa doçaria para o Pico. Segundo ele a ilha tinha uma lacuna nessa área das sobremesas. A proposta foi reiterada em Fevereiro aquando da primeira missão empresarial ao Faial/Pico”. Após colher dados e ler algumas coisas sobre gastronomia tradicional, chegou aos paladares açorianos, nomeadamente maracujá, amora, ananás, angelica, etc.
As receitas genuínas foram entregues durante esta expedição, ao Município das lajes do Pico: Chamarrita, Queijada da Ilha e Vulcão são de confecção artesanal, e farão parte em breve dos cardápios do Concelho.
A sua empresa recebe actualmente 10.000 unidades de queijadas por semana entre Donas Amélias, Queijadas da Graciosa e Queijadas da Vila, resultando num saldo positivo de todas as partes envolvidas.
Questionado sobre o transporte, garante não ser um problema, pois a mercadoria sai dos Açores (São Miguel) á tarde e é levantada em Toronto no outro dia de manhã.
Manuel Sousa, volta á “sua” Piedade do Pico todos os anos em Agosto, e é com gosto que diz que quer fazer alguma coisa “por esta terra”. Empresário no ramo Imobiliário, visitou durante a sua estadia várias propriedades, constatando que esta área (Ilhas do Triangulo) é de grande interesse existindo propriedades com grande potencial, tanto para serem aproveitadas em uso pessoal como para o turismo, ou mesmo para uso pessoal. Sousa referia-se essencialmente a habitações degradadas no centro histórico da cidade da Horta, havendo mercado para estas no Canadá, podendo ser uma boa oportunidade de negócio. Nesse sentido reuniu-se com João Castro, Presidente da Câmara local, que viu com agrado este interesse no parque habitacional da cidade, que visam a recuperação e beneficiação dos imóveis.
Manuel Sousa teve ainda oportunidade para contactar com outros empresários do ramo que o puseram a par de normas e legislações locais, facilitando assim a sua entrada no meio.
O sector do turismo, representado por Marina Candeias, saiu privilegiado nesta missão. Durante os 7 dias que durou esta viagem de trabalho, a delegação teve oportunidade de visitar os pontos mais interessantes das ilhas por onde passou, favorecendo de uma perspectiva não só de natureza mas também de carácter museológico e sócio/económico. A facilidade de mobilidade entre as ilhas do Triangulo foi outra das contrapartidas turísticas que a CCIH conseguiu deixar bem patente.
A surpresa “maravilhosa”, com o arquipélago, que visita pela primeira vez, foi visível em todas as expressões proferidas por Marina, que acumula o cargo de presidente da Academia do Bacalhau de Toronto, e teve oportunidade de conversar com Carlos Morais, actual presidente da Academia do Bacalhau do Faial, durante um jantar, onde agraciou o Eng. Ângelo Duarte da CCIH e Carlos Morais com uma medalha da Academia do Bacalhau de Toronto, que tem tido um papel fundamental no estímulo da língua portuguesa, com a atribuição de bolsas de estudo nessa disciplina específica.
Expectativas superadas
A CCIH incluiu nesta visita empresários e instituições faialenses que privaram de perto com todos os faziam parte desta comissão empresarial, tentado responder a todas as dúvidas que iam surgindo, nas diferentes matérias, privilegiando o enquadramento na realidade das ilhas, transmitindo assim uma maior transparência nas relações comerciais que foram surgindo.
Ângelo Duarte, classificou esta iniciativa, como uma tentativa de combater a desertificação das ilhas, através de parcerias que ajudem a desenvolver as empresas locais e por conseguinte a economia, tornando os produtos açorianos cada vez mais apreciados e reconhecidos.
“É necessário as demais autoridades darem valor a estas parcerias, que colmatam o mercado da saudade. Esta comissão empresarial aproveita o oceano para juntar povos pelos sabores”, salienta Duarte, para quem este trabalho, que vem sendo desenvolvido desde Outubro através de Adiaspora, e que já trouxe ao grupo Central cerca e três dezenas de empresários luso-canadianos, não só interessados a investir, como a investir concretamente, “tem que ser valorizado e reconhecido, pois os frutos estão á vista”.
Esta opinião é partilhada por José ferreira, para quem Adiaspora tem o papel fundamental de unir os empresários, e criar essas ligações.
“É bom que a região também perceba que as comunidades são um potencial, os Açores são pequenos, Portugal é pequeno, mas com as comunidades transformamo-nos uma grande nação. É preciso saber coordenar as energias e levar avante estas parcerias. Promoção não é despesa, mas sim investimento, acima de tudo é preciso haver profissionalismo”, alertou Ferreira, que salienta – “ não viemos cá brincar, viemos fazer um trabalho serio, há mercado para os produtos de qualidade açorianos. Há que aproveitar esta oportunidade para apresentar esses produtos e essa qualidade a intervenientes que façam a diferença pelo poder de compra, como são os empresários canadianos. Estes produtos vão ao encontro da “nossa comunidade”, que 30% é oriunda dos açores, e ao mesmo tempo que culmina a saudade lá, ajuda a economia cá”.
José Ferreira, para quem “não existe cinzento no negócio”, acredita que ou é ou não e, e que “esta é a oportunidade ideal para a realização de bons negócios para ambas as partes, que em tempos de crise fazem-se grandes negócios, é tempo de ir á procura da procura”. O Canadá está bem economicamente, é um bom parceiro de negócio, defende.
Sissa Madruga / Fotos: Foto Cine Filme