Os empresários dos Açores recrutaram três dezenas de funcionários em Cabo Verde, desde 2022, através de um acordo entre a Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) e o Instituto de Formação Profissional (IFP) de Cabo Verde.
“Trinta e tal pessoas já vieram para cá, mas a perspetiva é sempre de colocar mais pessoas. Temos de formar muita gente. A nossa taxa de desemprego ainda é alta em Cabo Verde. Nos jovens dos 15 aos 24 anos, a nossa taxa de desemprego está nos 24%. Temos muita gente ainda à procura de rendimento”, afirmou, em declarações aos jornalistas, o presidente do IFP de Cabo Verde, Paulo Santos.
O responsável está na ilha Terceira para conhecer as condições de trabalho dos emigrantes cabo-verdianos recrutados através da CCAH, com quem assinou hoje um protocolo para formalizar um acordo iniciado em 2022, que passa pela colaboração na formação profissional, mas também pela mobilidade profissional regular.
“Estamos a olhar isto com bons olhos, porque as pessoas estão a ter rendimentos e estão felizes”, vincou.
Segundo Paulo Santos, é dada prioridade no recrutamento “a pessoas que já fizeram formação e que estão no desemprego”, para “dar acesso ao mercado e ao rendimento” e “combater o flagelo da pobreza”.
“Cabo Verde é um país de emigração. A remessa dos emigrantes contribuiu para mais de 15% do PIB em Cabo Verde. Mais de 60% dos depósitos bancários em Cabo Verde são dos emigrantes, é um fator extremamente importante para o processo de desenvolvimento económico e social de Cabo Verde”, frisou.
Na visita à ilha Terceira, o presidente do IFP de Cabo Verde vai visitar algumas empresas que já contrataram trabalhadores cabo-verdianos para “perceber quais são as dificuldades” e encontrar soluções em áreas como a habitação e o acompanhamento de familiares.
Paulo Santos salientou, no entanto, que há uma ligação cultural e linguística entre Cabo Verde e Portugal que facilita a adaptação dos emigrantes.
Questionado sobre o memorando de entendimento sobre mobilidade laboral, assinado com Portugal em 2022, o responsável cabo-verdiano disse que “tem corrido bem, porque as coisas estão a funcionar”.
“Estão a funcionar com o governo central e agora estamos a trabalhar também com a parte regional, com as câmaras do comércio”, apontou.
Quanto à parceria com Portugal para a criação de um centro de formação em Cabo Verde, Paulo Santos adiantou que “nos próximos tempos vai haver novidades neste processo”.
O presidente do IFP disse que, por ano, são formados “mais de 5.000 jovens” em Cabo Verde, nas escolas de hotelaria e no centro de formação e manutenção industrial.
Segundo o presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo, Marcos Couto, o recrutamento através da associação empresarial permite assegurar que a contratação é feita com garantias de transparência, legalidade e estabilidade, tanto para empresas como para funcionários.
“A sociedade, de um modo em geral, olha para o empresário como o mau da fita. Todo e qualquer empresário preza de forma essencial o bem-estar dos seus colaboradores. Sem colaboradores satisfeitos não há sucesso nas empresas”, afirmou, assegurando que a câmara de comércio faz um “acompanhamento informal” da integração social dos emigrantes que chegam os Açores.
Segundo Marcos Couto, é sobretudo na área da restauração e hotelaria que há recrutamento de trabalhadores em Cabo Verde, mas também em profissões como técnicos especializados de ar condicionado e torneiros mecânicos.
“A região vive um processo, fruto do crescimento do turismo, de quase de pleno emprego. Temos perfeita consciência de que quem neste momento está nos centros de emprego são muitos daqueles desempregados crónicos e com algum tipo de problemas para as próprias empresas. Isso é importante que seja assumido publicamente e que as empresas precisam de outro tipo de mão de obra. Este protocolo permite procurar nas mais diversas áreas colaboradores”, defendeu.
Lusa