Em declaração política no parlamento, o deputado do PSD Paulo Moniz, eleito pelos Açores, sustentou que, “no pico do estado de emergência, o Governo da República afrontou o povo açoriano, ao recusar os pedidos para suspender voos da TAP para os Açores”.
Esta decisão, lembrou, foi justificada pelo primeiro-ministro com a necessidade de se manter a continuidade territorial.
“Numa altura em que o isolamento que muitas vezes é um entrave nas nossas ilhas, podia tornar-se no nosso maior escudo de proteção, constatamos um Governo da República insensível e alheio aos nossos anseios e necessidades. (…) Na hora mais difícil para os Açores, em que a disseminação do vírus ocorreu devido a casos importados, o Governo da República foi insensato e deixou a região e os órgãos de governo próprio entregues à sua sorte”, prosseguiu o social-democrata.
A Europa, acrescentou Paulo Moniz, “está para a República como a República está para as regiões autónomas”, e nesse sentido “não se pode festejar a tal bazuca económica que vem de Bruxelas sem efetivar uma bazuca de soluções também para os Açores”.
O parlamentar declarou também que o executivo de António Costa “vai pagar à TAP, através do Turismo de Portugal, para concorrer diretamente” com a transportadora açoriana SATA na sua “ligação histórica Ponta Delgada/Boston, uma rota há muito consolidada” e “essencial para os Açores”.
E concretizou: “Não há apenas uma companhia aérea em Portugal. Há duas. E não podendo a região ir diretamente a Bruxelas sem o aval do Governo da República, o mínimo que se exige é concertação sobre esta matéria. É preciso mais ação e menos conversa. Mais soluções e menos propaganda”.
Pelo PS, a deputada Isabel Rodrigues, também eleita pelos Açores, defendeu que Paulo Moniz trouxe ao parlamento um rol de questões “ignorando o que foram os últimos três meses da vida do país”, de combate à pandemia de covid-19, e “fazendo um balanço como se nada tivesse acontecido”.
“Isto não é uma crise dos Açores, senhor deputado. É uma crise de Portugal, da Europa, do mundo. O senhor tem de abrir as suas vistas. Os Açores não têm para si o valor que o senhor afirmou aqui hoje”, disse, dirigindo-se ao parlamentar do PSD.
A socialista valorizou ainda a indicação de que o Governo pretende que a Madeira e os Açores possam aumentar o seu endividamento líquido até 10% do Produto Interno Bruto (PIB) regional para responder aos impactos da pandemia de covid-19, uma medida que representa 948 milhões de euros.
“No quadro do Orçamento Suplementar, a apresentar à Assembleia da República, e tendo em conta as especificidades regionais e o impacto da pandemia da doença covid-19 nas economias insulares, o Governo considerará uma alteração ao artigo 77.º da Lei do Orçamento do Estado para 2020, relativo às necessidades de financiamento das regiões autónomas, que permitirá um aumento excecional do endividamento líquido”, refere o Programa de Estabilização Económica e Social, publicado no sábado à noite no Diário da República.
Já o Bloco de Esquerda (BE), pelo deputado Pedro Filipe Soares, lamentou o que diz ser a “falta quase absoluta de diálogo” entre os “governos socialistas” na República e na região autónoma, que “quase pareciam de candeias às avessas” ao invés de cultivarem um “diálogo próximo, profícuo”.
O CDS, por João Almeida, pediu uma “maior dinâmica” do Governo dos Açores no campo económico, defendendo que “todos” no país querem uma “recuperação rápida” deste setor na região, numa fase em que está travada a pandemia.
Já a comunista Alma Rivera chamou a atenção para os trabalhadores despedidos em 2018 na converseira Cofaco, na ilha do Pico, tendo na ocasião sido anunciado o constuir de uma nova fábrica da empresa, o que até ver não se verificou.
Os Açores não registaram, nas últimas 24 horas, novos casos positivos de covid-19 e a região está desde sexta-feira sem qualquer caso ativo de infeção pelo novo coronavírus SARS-CoV-2.
No domingo, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, valorizou o “momento feliz” que os Açores vivem no combate à pandemia de covid-19, não apresentando casos ativos.
“Pude acompanhar o percurso dos açorianos. Até este momento, que é um momento feliz para todos, por não haver nenhum caso ativo, uma situação muito rara na Europa e no mundo”, destacou o chefe de Estado, que visitou o concelho do Nordeste, na ilha de São Miguel.