Estudo da Universidade dos Açores sobre comportamento dos cachalotes sai em revista cientifica

baleia-whaleOs cachalotes que visitam os Açores têm uma grande fidelidade ao arquipélago e integram uma organização social que anualmente escolhe esta zona do Atlântico para uma reunião familiar alargada durante a Primavera e Verão.

“É como se uma grande família alargada se reunisse anualmente nesta zona”, afirmou Mónica Silva, do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores, referindo uma das conclusões do estudo que será divulgado na próxima edição da revista científica Canadian Journal of Zoology.

 

 

A investigação, liderada por Ana Pinela, incidiu sobre a genética populacional e a organização social do cachalote.

 

“Esta foi uma investigação inédita nos Açores, já que foi a primeira vez que se fez um trabalho com recurso a técnicas genéticas com este detalhe”, salientou Mónica Silva, que integrou a equipa de investigadores.

 

Os trabalhos resultaram na descoberta de novos aspectos da vida social dos cachalotes que visitam os Açores, uma área de acasalamento, reprodução e alimentação.

 

 

“Esta investigação demonstrou, por análise genética, que, durante o Verão, temos nos Açores vários grupos sociais que pertencem à mesma família”, revelou Mónica Silva.

 

Nesse sentido, as conclusões do estudo indicam que se reúnem nos Açores, “não só vários grupos aparentados, mas também várias famílias com ligações parentais entre si”.

 

Os cachalotes que frequentam os Açores pertencem a uma população mais vasta, que é a do Atlântico Norte, e fazem grandes migrações.

 

Os machos deixam de viver em grupo quando atingem a maturidade sexual e movimentam-se desde a zona do equador até ao norte do planeta, enquanto as fêmeas permanecem habitualmente em águas mais quentes, integrando grupos maiores, que incluem também sub-adultos e crias.

 

O estudo realizado nos Açores também revelou novidades ao nível do comportamento dos machos, apontando para um abandono do grupo mais tardio do que é conhecido até agora.

 

“Este trabalho revelou que, nos Açores, os machos deixam o grupo apenas aos 16 ou 17 anos, o que é caso único no mundo”, frisou Mónica Silva.

 

Os dados conhecidos sobre a espécie revelam que os machos abandonam o grupo familiar quando têm entre seis e dez anos, passando a integrar grupos de animais solteiros até atingirem a maturidade sexual e poderem lutar pelas fêmeas, altura em que passam a viver sozinhos.

 

No caso dos animais que visitam os Açores, a situação parece ser diferente, apontando os dados deste estudo de natureza genética para um abandono mais tardio.

 

Uma das possíveis causas está relacionada com a influência da caça à baleia, que dizimou um grande número de machos, obrigando a uma espécie de antecipação do ciclo de vida para assegurar a reprodução.

 

“A população de cachalotes pode ter recuperado desta situação e já não existir a necessidade dos machos saírem tão novos do grupo”, admitiu a investigadora.

 

Outra hipótese é que os machos continuem a sair cedo do grupo, mas, por qualquer razão ainda desconhecida, quando chegam aos Açores voltam a reintegrar temporariamente o grupo das fêmeas.

 

“Esta hipótese implica, além do reconhecimento entre eles que sabemos existir, laços sociais muito mais profundos do que se pensava”, frisou Mónica Silva.

 

Até agora, os investigadores consideravam que os machos quebravam o laço social quando abandonavam o grupo familiar, “até como forma de evitar a consanguinidade”, mas as conclusões deste estudo vão obrigar a repensar melhor este aspecto da vida dos cachalotes.

 

 

 

lusa

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