“Sou contra censura e a favor do pensamento livre”, afirmou à agência Lusa, Victor Hugo Fojaz, alegando que o estudo sobre a previsão sísmica está muito desenvolvido e existem várias técnicas que permitem saber com “cada vez maior grau de fiabilidade quando e onde vai ocorrer um novo sismo”.
Na segunda-feira em Aquila, centro de Itália, ocorreu um sismo (magnitude 5,8 na escla de Richter) que provocou 207 mortos, 15 desaparecidos e 178 feridos internados, 100 dos quais estão em estado grave.
Há dois meses atrás o cientista italiano Giocchino Guiliani alertou as autoridades para a iminência de um sismo violento na região de L’Aquila, mas foi acusado de alarmismo e obrigado a retirar o seu estudo científico da Internet.
Esta terça-feira, o jornal Correio da Manhã noticia que o investigador do Instituto Nacional de Astrofísica começou a estudar a região de Abruzzo, em Janeiro, na altura em que ocorreram os primeiros abalos, dedicando-se em concreto à emissão de gás nas zonas sismicamente mais activas, por considerar que este elemento pode servir como barómetro para prever um sismo de grande magnitude.
Para o vulcanólogo açoriano, que tem várias obras publicadas sobre a temática, a previsão sísmica depende muito do conhecimento existente das equipas de investigação sobre o terreno e desenvolve-se tendo em conta três características: previsões de longo prazo (mais difíceis), médio prazo (dez anos) e curto prazo (horas).
Frisando que a natureza não é nenhum modelo matemático exacto, Victor Hugo Forjaz considera que as previsões feitas a médio prazo podem ser consideradas as mais aceitáveis, embora as de curto prazo também sejam exequíveis, desde que a zona crítica seja monitorizada regularmente há vários anos.
“Por exemplo é possível saber com alguma certeza o comportamento na falha do Congro, ilha de São Miguel, se ocorrer um novo sismo de grande intensidade, porque o local está a ser estudado há vários anos”, afirmou o vulcanólogo, que comparou este conhecimento ao que têm os médicos de família dos seus pacientes, por oposição a um médico das urgências hospitalares.
Segundo Victor Hugo Forjaz, as previsões de médio prazo para os Açores, por exemplo, indicam que de nove em nove anos ocorre uma nova crise sísmica.
Tendo como referência os abalos ocorridos em 1998 no Faial e Pico alguns investigadores açorianos acreditam que os sismos na Lagoa do Congro, ilha de São Miguel, no final de 2007 e início de 2008 possa corresponder a uma nova crise sísmica nos Açores, mas ainda não há certezas, dado que 2009 ainda está dentro do período de erro admissível.
“Há várias escolas em todo o mundo a trabalhar este assunto polémico da previsão sísmica”, disse Victor Hugo Forjaz, revelando que os americanos lubrificaram falhas geológicas na Califórnia para medir a energia sísmica libertada, enquanto outras equipas utilizam GPS para medir marcos geodésicos no cimo das montanhas.
“Melhor do que prever é prevenir. Melhor ainda só juntando as duas coisas”, sustentou o investigador, que alertou para a necessidade de se construir bem, ter zonas de circulação nos núcleos urbanos e planos de emergência aprovados e testados.
O vulcanólogo explicou, ainda, que num cenário vulcânico é muito mais fácil de prever do que no cenário sísmico, porque os vulcões sofrem alterações evidentes, bastando estar atento a parâmetros como a temperatura, sismicidade e magnetismo.
in AO/Online