O deputado da Assembleia Constituinte e militante histórico do PSD Américo Natalino Viveiros diz que os EUA estavam “muitíssimos bem informados” sobre a realização da manifestação do 6 de junho de 1975 nos Açores.
Cerca de 10 mil pessoas saíram à rua em 6 de junho de 1975, predominantemente, lavradores, que se batiam por diversas revindicações, a que se juntaram outros populares, numa manifestação que acabou por ficar conotada com uma eventual independência dos Açores.
O antigo secretário regional dos governos de Mota Amaral vai lançar na quarta-feira, em Ponta Delgada, a obra “6 de junho: um marco na rota da autonomia dos Açores”, sendo o prefácio assinado pelo ex-presidente da Assembleia da República e do Governo açoriano.
“Os EUA tinham plena consciência da realização do 6 de junho. A ligação que eu tinha com o consulado [a cônsul na altura era Linda Pfyphel] era política, mas havia outras pessoas que estavam muito ligadas em termos informativos carreando informações do próprio movimento”, especifica o atual administrador e diretor do jornal Correio dos Açores.
Natalino Viveiros sustenta que numa “determinada fase” em que se assistia a um “crescente influência” do PCP no continente, os EUA estavam “muito atentos” ao que se passava nos Açores.
“A determinada altura, os EUA mudaram a sua agulha, com a criação da Junta Regional formada nos Açores, e entenderam que o que era preciso era ter um interlocutor no país que permitisse criar condições para o estabelecimento de um regime democrático, apostando e investindo tudo em Mário Soares”, disse, em declarações à Lusa.
Natalino Viveiros sustenta que foi o PSD dos Açores o responsável pela mobilização que conduziu ao 6 de junho, partido que tinha “na mente e na ação” um projeto de autonomia para o arquipélago como a “melhor solução” e não a independência.
“A manifestação foi preparada pelo PPP-PSD em ligação estreita com dirigentes das Forças Armadas e com o próprio general Altino de Magalhães, que era conhecedor de toda a nossa determinação. Digamos que foi como a chamada revolução da primavera. Aqui foi a revolução de verão”, declara Natalino Viveiros.
O militante histórico do PSD explica que a manifestação de 6 de junho esteve para realizar-se a 29 de maio, tendo havido “três elementos ligados” à FLA-Frente de Libertação dos Açores que pediram ao PSD que a data fosse alterada para que fosse dada “dimensão externa” ao evento, aproveitando a presença da NATO em Ponta Delgada, entre 4 e 8 de junho.
“Era uma manifestação de açorianos. Não havia cores do PSD, PS ou da FLA, ou do CDS, de onde fosse. Eram açorianos com um projeto [autonomia], que iam lutar por ele, sendo que sabíamos que havia uma tentativa liderada pelos governadores civis, que eram ligados ao MDP-CDE, de impor uma autonomia administrativa com a qual não concordávamos”, refere.
Natalino Viveiros sustenta que o 6 de Junho, associado ao 17 de Novembro, são “marcos históricos” na “rota” da autonomia dos Açores.
A 17 de novembro houve uma manifestação em Ponta Delgada de apoio à Junta Regional dos Açores, presidida pelo brigadeiro Altino Pinto de Magalhães, promovida pelo PPD, CDS e FLA, com palavras de ordem a favor da independência.
“Tão importante foi a manifestação do 6 de junho como tão determinante foi o 17 de novembro”, salvaguarda Natalino Viveiros.
Natalino Viveiros refuta que se tenha manipulado a FLA, mas admite que houve pessoas ligadas à organização que se sentiram “desconfortáveis” com o rumo que os Açores tomaram e que “não passava” pela independência mas “sim pela autonomia”.
Lusa