De acordo com documentos secretos norte-americanos que foram entretanto desclassificados e divulgados publicamente, devido à manifestação de 6 de junho de 1975 e à eventual derivada comunista no país, Washington deu essa indicação aos seus militares instalados na base da ilha Terceira.
Naquele dia, uma manifestação juntou cerca de 10 mil pessoas em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, sobretudo lavradores com diversas revindicações perante o Governo central e contra uma eventual tomada do poder no país pelos comunistas. O protesto acabou por ficar conotado com a independência dos Açores.
De acordo com os documentos, os norte-americanos tinham vários cenários previstos para os Açores, o primeiro dos quais apontava por manter a sua neutralidade, não informando o Governo português sobre as atividades separatistas e um possível ataque, e dizendo à Frente de Libertação dos Açores (FLA), liderada por José de Almeida, que não se iriam envolver.
Luís Andrade, docente universitário, estudioso de geopolítica e geoestratégia, declarou à agência Lusa que, com base na documentação que era secreta e tem vindo a ser divulgada pelos Estados Unidos nos últimos anos, Washington “poderia ter essa visão”, mas “oficialmente nunca a manifestou”.
Segundo o também professor catedrático de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade dos Açores, na altura tanto o embaixador norte-americano em Lisboa, Frank Carlucci, como o Consulado dos Estados Unidos em Ponta Delgada “nunca admitiram” a perspetiva de uma independência dos Açores.
Contudo, o especialista salvaguardou que “se a situação se tivesse deteriorado e houvesse uma enorme imprevisibilidade e instabilidade” no Governo central, sobretudo no verão de 1975, era “muito possível” que os norte-americanos apoiassem a independência.
Citando Henry Kissinger, ex-secretário de Estado norte-americano, que escreveu que Portugal estava perdido para o comunismo no denominado “verão quente”, Luís Andrade referiu que “não se pode dizer claramente que os Estados Unidos queriam ocupar as ilhas dos Açores se a situação se complicasse a nível nacional”, mas não seria de admirar “absolutamente nada que se tenha pensado seriamente no assunto”.
O docente universitário admite que “houve alguns contactos” do líder da FLA com “várias entidades americanas”, visando a independência dos Açores, mas “ao nível mais elevado da administração norte-americana” o responsável “nunca foi recebido”.
Tendo a necessidade de salvaguardar a base das Lajes, referiu os norte-americanos “jogaram com os dois lados: com o Governo português, mantendo uma relação mínima, não quebrando o relacionamento, por um lado, mas atentos à situação nos Açores, por outro”.
A base das Lajes era, na década de 1970, uma peça considerada fundamental na política de defesa norte-americana.
Devido a mutações geopolíticas, em 2015, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Chuck Hagel, confirmou a decisão do Pentágono de reduzir a presença dos Estados Unidos na estrutura militar da ilha açoriana da Terceira.
O embaixador norte-americano em Portugal, Robert Sherman, já tinha anunciado o plano do Pentágono para uma redução gradual de pessoal civil e militar na base militar das Lajes.
Segundo Sherman, a redução envolveria a redução de 900 para 400 trabalhadores civis portugueses e de 650 para 165 funcionários civis e militares dos Estados Unidos.
Entre Portugal e os Estados Unidos vigora uma acordo bilateral de defesa e cooperação que tem como pilar a base das Lajes.
Lusa