As lapas ocupavam em 1984/85 o sexto lugar entre as espécies com valor comercial, no conjunto das espécies de pescado declaradas nas lotas dos Açores.
Em 1986 ocorreu o colapso total dos mananciais de lapas nas ilhas onde a exploração era mais intensa.
A investigação então realizada permitiu avaliar que a fragilidade do recurso estava associada à sua ecologia.
As lapas têm hábitos relativamente sedentários. Os indivíduos estabelecem pequenos territórios alimentares sobre as rochas onde pastam. Durante as suas digressões alimentares exercem uma selecção efectiva de alguns “rebentos” de algas. Sabemos hoje que as lapas são eficazes “horticultoras”.
Os territórios individuais que as lapas ocupam sobre as rochas são zonas de crescimento controlado de algas. Se se retiram as lapas de forma não sustentada, como aconteceu, as algas crescem de forma profusa. Esta profusão de algas acaba por entrar em conflito com a história vital das lapas. Zonas com grande profusão de algas impedem a fixação das mais recentes gerações de lapas. A sobre exploração das lapas provocou um efeito em catadupa.
Retiradas as lapas, cresceram as algas que ganharam a competição pelo espaço. O sistema nunca se restabeleceu apesar das medidas de conservação ensaiados e dos modelos de gestão.
As lapas devem ter sido um dos primeiros balões de ensaio para a investigação no âmbito da conservação marinha. Mas modelos não iriam faltar daqui para a frente.
Durante a última década houve mudanças significativas nas pescas dos Açores. As mais importantes dizem respeito à pesca demersal tradicional. Observou-se um aumento da intensidade e esforço de pesca, acompanhados da exploração de novas áreas de pesca e de novas espécies. Disto resultaram impactos reais nos mananciais de pescado da Região.
A investigação em curso na Região está em posição de demonstrar que os montes submarinos contidos dentro das 200 milhas da ZEE dos Açores, têm limites de sustentabilidade da sua exploração. Há vários tipos de medidas que podem ser implementadas para conservar os ecossistemas marinhos.
Nas perspectivas em estudo as reservas marinhas são medidas precaucionais que devem ser implementadas independentemente de outras medidas de gestão que sejam activadas.
Haverá sempre necessidade de definir um sistema de quotas de pesca. Mas, na incerteza intrínseca aos modelos matemáticos de avaliação e gestão, a prudência avisada exige soluções de conservação mais radicais, e porventura mais criativas.
As reservas marinhas, são primeiros passos óbvios para providenciar medidas de protecção que podem beneficiar um alargado número de espécies, pelo menos, até que mais conhecimentos estejam disponíveis. Desde os biólogos pesqueiros até aos economistas, todos trabalhamos com graus de incerteza.
Ricardo Serrão Santos/DOP (in Fazendo)