O Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada, nos Açores, inaugura na quinta-feira a última de três exposições para dar a conhecer a fotografia de Francisco Afonso Chaves, o naturalista que também se distinguiu na arte da imagem.
É uma homenagem no sentido em que não só se reconhece o valor e importância de Francisco Afonso Chaves, que tem vindo a ser reconhecido de há um século para cá como cientista, naturalista fundamental na história da ciência em Portugal, mas também aqui como fotógrafo”, afirmou à agência Lusa o curador da exposição, Victor dos Reis.
Denominada “Imagem Paradoxal”, a exposição foi inaugurada em 2016, em Lisboa, e mostra mais de 200 fotografias, algumas em três dimensões, documentos e objetos associados à fotografia, entre outras peças do coronel Francisco Afonso Chaves (1857-1926).
Nascido em Lisboa, Afonso Chaves viveu toda a vida nos Açores, estando também o seu nome associado ao início do serviço de meteorologia no arquipélago.
Victor dos Reis adiantou que esta exposição, que resultou de um trabalho de investigação iniciado há seis anos, e que pretendeu “pôr Francisco Afonso Chaves na história da fotografia em Portugal”, dá a conhecer registos da paisagem açoriana, aspetos etnográficos e biográficos.
Segundo disse o curador, de entre todas as imagens expostas destacam-se as que registam a visita régia de D. Carlos I e D. Amélia à ilha de São Miguel, em 1901, e do rei Alberto I do Mónaco, em 1904, porque Afonso Chaves passa a fotografar em modo estereoscópico.
Além disso, há fotografias do pintor açoriano Domingos Rebelo, de como eram as Portas da Cidade, um dos mais icónicos monumentos de Ponta Delgada no passado, e de uma tourada na ilha Terceira, entre outras.
“A obra fotográfica dele é também o registo das suas viagens e do mundo que conheceu”, refere o responsável, acrescentando que Afonso Chaves se correspondeu com mais de 100 pessoas e tinha uma rede de amigos e conhecimentos espalhada por toda a Europa.
Para Victor dos Reis, Francisco Afonso Chaves foi uma personagem que transcendeu o seu próprio tempo, logo tinha uma “dimensão visionária, o que era raro para a sua época”.
A exposição estará dividida entre o núcleo de Santa Bárbara e Santo André do Museu Carlos Machado, instituição de que Afonso Chaves foi diretor e contribuiu para o seu crescimento, adquirindo muitas das peças que ainda hoje estão expostas, em particular a coleção de história natural.
“Vamos criar um percurso dentro da coleção de história natural sem retirar as peças dos locais onde estão, para que o visitante possa conhecer melhor as peças icónicas, que chegaram ao museu por via de Afonso Chaves e que ele próprio visitou”, destacou Victor dos Reis.
Neste museu estão cerca de 6.000 fotografias tiradas por Afonso Chaves, devidamente preservadas e digitalizadas, sendo que parte da documentação do naturalista e fotógrafo estão na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, e outra parte na posse da família.
Depois de ter sido inaugurada em Lisboa, no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, em 2016, e de um segundo núcleo estar ainda patente ao público, até maio, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, também em Lisboa, a exposição chega agora aos Açores.
“Esta é a última de três exposições. É maior e aborda mais temas”, assegurou Victor dos Reis, que conjuntamente com Emília Tavares, são os curadores da mostra.
Paralelamente à exposição em Ponta Delgada será lançado em breve um catálogo, sobre este acervo de Francisco Afonso Chaves, realizadas conferências e ações pedagógicas.
Lusa