Um mês depois da taxa sobre os sacos plásticos entrar em vigor, os fabricantes já acusam as dificuldades da medida, que consideram ter sido abrupta, e alguns admitem reduzir pessoal, segundo as empresas contactadas pela Lusa.
A taxa sobre os sacos plásticos leves entrou em vigor a 15 de fevereiro e um mês depois o ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, faz um “balanço muito positivo” da aplicação da lei, mas as empresas fabricantes admitem estar em dificuldades.
Contactada pela Lusa, Borges Amaral, da Topack, salientou que há um “sentimento negativo” no setor e que a introdução da taxa sem ter havido um período de transição para os fabricantes de sacos de plástico está a ter “consequências que são funestas”.
Borges Amaral escusou-se a fazer mais comentários, mas admitiu que as empresas do setor vão ter de reavaliar o negócio.
A mesma posição é assumida pelo diretor-geral da Plasgal, Paulo Almeida, que sublinhou que “o primeiro mês teve um impacto fortemente negativo”, uma vez que o conjunto de clientes que tem “estão num período de incerteza”.
Se por um lado deixaram de comprar sacos de plásticos leves, por outro há a dúvida se os consumidores vão aderir aos sacos de plástico mais grossos.
“Os sacos finos deixaram de ser produzidos e em relação aos outros, os clientes estão expectantes em relação aos consumidores”, apontou.
A medida representou uma “quebra acentuada das vendas, provavelmente terei de reduzir alguns contratos com colaboradores”, lamentou.
Atualmente, a Plasgal conta com 120 pessoas, mas é possível que tenha de reduzir “no prazo de dois a três meses para as 90, para já”, disse.
“Tivemos de readaptar algumas máquinas, se não colocarmos volumes nos mercados externos, caso contrário teremos de abater as máquinas”, explicou Paulo Almeida.
O gestor lembrou que a readaptação da indústria transformadora não se faz de um dia para o outro e isso tem impactos económicos grandes.
“A readaptação do equipamento é um processo lento” e os custos podem ultrapassar os 3,5 a 4 milhões de euros.
“Dissemos várias vezes ao ministro o impacto que isto teria no setor”, afirmou, apontando que a recomendação da União Europeia é de uma “redução gradual” para 90 sacos por habitante até 2020 e para 40 sacos em 2015.
“Em Portugal é de 35 por habitante e a decisão definitiva foi tomada em dezembro e entrou em vigor em fevereiro”, sublinhou.
Isto é “elucidativo no que toca ao impacto da medida, a velocidade da indústria é sempre mais lenta do que uma atividade comercial”.
Atualmente, as exportações representam 7% do negócio, mas a Plasgal espera que estas aumentem o peso para 25% este ano, para compensar o impacto negativo do negócio no mercado português.
Espanha, Angola, Moçambique e Cabo Verde são alguns dos mercados para onde a empresa exporta.
Em Angola, a empresa tem tido “vários constrangimentos” devido à quebra do preço do petróleo.
“Este primeiro ano [de introdução da taxa] vai ser uma incerteza” e vai ter impacto na faturação, que irá cair.
Também o diretor-geral da Sacos 88, Amaro Reis, espera uma quebra de faturação este ano, depois de ter registado 12,3 milhões de euros no ano passado.
“Fizeram uma lei que não deu tempo às empresas. Tratou-se de uma medida para ir buscar dinheiro”, sublinhou.
“A indústria vai ter de repensar os produtos, apostar na diversidade”, disse, considerando que a aplicação da taxa não foi mais do que “um assalto à mão armada” que nem permitiu às pessoas “esgotarem os ‘stocks’ que tinham” de sacos plásticos leves.
“Vou ter de me virar para países com medidas sustentáveis”, acrescentou.
As exportações da Sacos 88 – para países como Espanha, França e Bélgica – representam 10%, mas “vamos ter de duplicar”, diz o seu responsável, para a empresa poder sobreviver.
Com 65 trabalhadores, o diretor-geral da Sacos 88 assegurou que vai “fazer tudo até ao máximo” para não ter de despedir pessoas, porque estes “não merecem aquilo que o ministro lhes fez”.
Lusa