As festas em louvor do Divino Espírito Santo são vividas com intensidade em todo o arquipélago dos Açores, ainda que as celebrações apresentem diferenças de ilha para ilha e até mesmo entre freguesias.
“É a festa mais comum dos Açores, embora com características diferentes”, salientou, em declarações à Lusa, o padre Francisco Dolores, natural de Santa Maria e pároco na freguesia da Conceição, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira.
As festas do Divino Espírito Santo iniciam-se após a Páscoa e prolongam-se até ao oitavo domingo seguinte, o da Trindade, apesar de já ser comum alargarem-se até ao verão, devido ao regresso dos emigrantes à terra natal.
O domingo de Pentecostes, celebrado hoje, e o sétimo após a Páscoa, é o momento mais alto das comemorações, que, neste dia, se repetem por todas as ilhas.
O impacto das festas do Espírito Santo é de tal que a segunda-feira a seguir ao domingo de Pentecostes é feriado regional e o Dia da Região Autónoma dos Açores, sendo ainda habitual o executivo açoriano dar tolerância de ponto na terça-feira nas ilhas do Pico, S. Jorge e Faial.
As comemorações são muito diferentes entre as ilhas, assinalando-se também na diáspora, mas segundo Francisco Dolores, todas têm em comum “a oração (normalmente o terço), a missa da coroação e a distribuição de esmolas aos pobres”.
Segundo o pároco, o culto pelo Espírito Santo foi trazido para os Açores pelos primeiros povoadores e perdeu expressão no continente português durante o liberalismo, porque as irmandades do Espírito Santo “tinham algum dinheiro”.
“Nos Açores, não tínhamos muito dinheiro. Felizmente, éramos pobres. Muitas das irmandades tinham ‘triatros’ [onde se monta o altar] armados de madeira, por isso escaparam”, salientou.
Para o padre açoriano, a origem destas festas merece “um estudo mais aprofundado”, tendo por base pormenores como o facto de a rainha Santa Isabel ser sobrinha da rainha Santa Isabel da Hungria, que nos anos de fome mandou “distribuir carne, pão e alimentos pelos pobres”.
O Espírito Santo é simbolizado por coroas, cetros e bandeiras, todos eles com pombas representadas.
“O símbolo que é usado no Espírito Santo é o símbolo do batismo de Jesus. Quando ele é batizado, ouve-se uma voz que diz ‘este é o meu filho muito amado’ e toda a gente vê uma figura em forma de pomba, que é tida como símbolo do Espírito Santo”, salientou.
As festas incluem uma missa, em que as pessoas são coroadas pelos padres, o que, segundo Francisco Dolores, provoca alguma confusão em quem não conhece a tradição.
“A coroa quer dizer que o poder vem de Deus e cada um é filho de Deus, cada um deles pode ser coroado. Até a tradição diz que a rainha Santa Isabel tirou a coroa do rei D. Dinis e pô-la num mendigo, para que naquele dia o mendigo fosse tratado como um rei”, frisou.
Segundo o sacerdote, Santa Maria, a primeira ilha a ser povoada, é a que mantém a linguagem dos tempos da rainha Santa Isabel, havendo ainda foliões e sopas mais pobres, sem gorduras e temperadas com endro.
No Pico e no Faial, as festas foram influenciadas pelas promessas feitas após terramotos, o que faz com que ainda hoje, por exemplo, o presidente da Câmara Municipal da Horta leve a coroa no cortejo e que a autarquia dê pão às pessoas, “independentemente de quem esteja no poder”.
Em algumas ilhas, as festas têm também uma componente lúdica, o que Francisco Dolores considerou normal, tendo em conta que o “Espírito Santo vem para a alegria de todos”, mas deixou um apelo para que não se perca a “partilha fraterna”.
“É uma época de crise. As irmandades do Espírito Santo deviam pensar primeiramente naqueles que têm necessidade nas suas freguesias”, frisou.
Lusa