O dia de Nossa Senhora da Conceição que hoje celebramos “foi sempre um dia de festividade e solenidade grande” no seio da família Bragança que, de 1640 a 1910, reinou em Portugal, disse à Lusa a historiadora Joana Troni.
De D. João IV, que entregou a coroa de Portugal a Nossa Senhora da Conceição, por ter alcançado a vitória sobre os espanhóis e ter-se restaurado a independência, em 1640, a D. João V, que reinou de 1707 a 1750, “a corte é muito marcada pela religiosidade o que faz parte da cultura do tempo e naturalmente tinha um culto especial pela virgem”, disse a historiadora que com Ana Cristina Pereira é autora da obra “A vida privada dos Bragança”
Em declarações à Lusa, a historiadora afirmou que “à excepção dos períodos de interregno como quando a Corte esteve no Brasil [1807-1821] e o das guerras liberais [1828-1834]; quando a vida retoma o seu curso, festejavam de forma especial N.S. da Conceição, até porque está ligada à fundação da Dinastia [de Bragança]”.
“O gesto simbólico de D. João IV foi uma marca e fazer essa vivência anual é relembrar a questão da monarquia e da restauração”, disse.
A obra, “A vida privada dos Bragança. De D. João IV a D. Manuel II: O dia a dia na corte”, editada pela Esfera dos Livros, volta a juntar as historiadores Ana Cristina Pereira e Joana Troni que anteriormente tinham assinado “Amantes dos Reis de França”.
O projeto das autoras é “a divulgação de uma história científica mas não tão académica quanto isso, e muito acessível ao público em geral”.
Referindo-se aos Bragança, a autora afirmou à Lusa que “eram muito dados à caça, mesmo as mulheres – temos o caso de D. Luísa Josefa, filha de D. Pedro II e de D. Maria Francisca que era uma exímia caçadora, até D. Carlos que na véspera do regicídio tinha vindo de uma caçada”, disse.
“A música é um interesse mais para alguns e não para todos, D. Pedro II por exemplo, comparado com o seu pai D. João IV, não gosta assim tanto, mesmo D. João V gosta mas não tanto como D. José que mandou construir a Ópera do Tejo. D. Maria I, filha de D. José tocava vários instrumentos, ela e as irmãs. A irmã, por exemplo, D. Maria Francisca Benedita, cantava, tal como a mãe D. Mariana Vitória. Mas em todos os Bragança a música é consensual”, referiu.
As “touradas” eram um espetáculo que congregava toda a Família Real e que se realizava “esporadicamente ao longo do ano”.
Outro prazer “privado” dos Bragança era navegar no Tejo, D. Luís e D. Carlos “tinham paixão pelo mar” e “D. José por exemplo, passeava-se de barco sozinho com a Rainha no Tejo”.
Para a autora o mais surpreendente da investigação feita para o livro foi a troca de correspondência entre a família “porque, sendo rei e princesa ou príncipe, afinal são pais e filhos e as cartas evidenciam laços afetivos fortes e, no fundo, são como outras pessoas quaisquer”.
“D. Luísa de Gusmão escreve que já não tem vontade de viver com a preocupação de ter o filho, D. Teodósio, na guerra, contrariando o pai [D. João IV] e, quando partiu a filha, D. Catarina, afirma-se muito lastimosa”, disse a historiadora.
“Surpreendeu-me até a descrição que fazem de si próprias. Por exemplo, a infanta Maria Bárbara, que era rainha de Espanha escreveu ao pai [D. João V] afirmado que se sentia feia e gorda e com pouco jeito para dançar”, contou.
Joana Troni escreveu com Ana Cristina Pereira e Paula Lourenço “As amantes dos Reis de Portugal”, e “As amantes dos Reis de França”, com Ana Cristina Pereira. Em 2008 publicou “Catarina de Bragança (1638-1707)”, a sua tese de mestrado.
LUSA