Na baía do Rosto de Cão, nos arredores de Ponta Delgada, há três fortificações em ruínas, um património arquitetónico militar em estado de “degradação” que deveria ser recuperado e valorizado, diz o historiador da Universidade dos Açores Carlos Riley.
“Esta parte rasa da costa sul de São Miguel constituída pela zona das praias, nos arredores de Ponta Delgada, era do ponto de vista militar o ponto mais vulnerável de ataque, nomeadamente no que concerne ao desembarque das forças invasoras, o que explica a grande densidade de fortificações costeiras das quais, hoje em dia, são apenas percetíveis três elementos, todos eles em ruínas”, disse à Lusa Carlos Riley.
Um destes elementos é o Forte de São Caetano (século XVII), situado na ponta nascente da Praia das Milícias, sendo um outro um fortim de menor dimensão, o Forte de São Francisco Xavier, localizado no Poço Velho, em São Roque, surgindo, finalmente, uma fortificação (uma trincheira) que terá sido construída no início do século XIX, sendo contemporânea das lutas liberais nos Açores.
Carlos Riley explica que os fortes de São Francisco Xavier e de São Caetano visavam com o seu fogo cruzado “defender” a baia do Rosto do Cão dos frequentes ataques de corsários e piratas, tendo assumido na perspetiva militar uma “importância significativa” no sistema defensivo de Ponta Delgada, uma vez que a cidade encontrava-se desprotegida na sua retaguarda nascente em relação a qualquer desembarque.
“Muitas pessoas, quando vão tomar banho na Praia das Milícias, apercebem-se a olho nú de uma espécie de muro com pequenas seteiras onde as antigas milícias da zona do Rosto de Cão e de São Roque faziam o exercício de tiro em caso de desembarque de tropas inimigas”, refere.
O historiador destaca que estes três elementos de arquitetura militar encontram-se em “avançado estado de degradação”, mas considera que “seria, apesar de tudo, interessante”, sem ter de “restaurar as fortificações” naquilo que seria a sua “fisionomia primitiva”, “valorizar” e “requalificar a paisagem envolvente”.
Carlos Riley acentua que se poderia colocar no local, com “pouca despesa”, painéis com informação iconográfica, fotografias antigas, pinturas e desenhos que “existem das antigas fortificações” de forma a que o público em geral, nomeadamente na época de veraneio, tivessem elementos que “permitissem compreender” e “interpretar melhor a sua primitiva função”.
A zona da baía do Rosto de Cão onde fica localizado este património arquitetónico militar, cuja jurisdição é de domínio marítimo, tem vindo a ser alvo de grande pressão urbanística pelas condições singulares que oferece bem como pela sua proximidade da cidade de Ponta Delgada.
Lusa