Governo açoriano cria grupo para estudar estruturas que podem ser anteriores a povoamento português

O  Governo dos Açores anunciou hoje a criação de um grupo de trabalho para estudar estruturas na ilha Terceira que alguns investigadores dizem ser anteriores à chegada dos navegadores portugueses ao arquipélago.

Segundo um comunicado divulgado pelo executivo açoriano, o secretário regional da Educação, Ciência e Cultura, ouvido hoje pela comissão de Assuntos Sociais do parlamento da região, por causa desta matéria, revelou que “a equipa pluridisciplinar a constituir será, entre outros, composta por investigadores das áreas de Arqueologia, História e Geologia” da Universidade dos Açores.

“O estudo a promover pretende estabelecer a datação daquela estrutura [na Grota do Medo], bem como de outros supostos achados arqueológicos no Monte Brasil, também na ilha Terceira, e na ilha do Corvo”, lê-se no mesmo comunicado.

O Governo dos Açores decidiu avançar com esta decisão na sequência de “trabalhos” já realizados na Direção Regional da Cultura, “por técnicos regionais e nacionais”.

A mesma comissão parlamentar ouviu também hoje o investigador da Universidade dos Açores Félix Rodrigues, que considera que as estruturas existentes na Grota do Medo, em Angra do Heroísmo, são um complexo megalítico, anterior ao povoamento português, defendendo um inventário da Direção Regional da Cultura.

Félix Rodrigues, com formação de base em Física, descobriu o local há dois anos, tendo alertado a Direção Regional da Cultura, mas recebeu como resposta um relatório que negava a hipótese das construções serem anteriores ao povoamento português.

“O que me foi dado foi um relatório com uma interpretação do que aquilo era, que eu não concordo, porque vem dizer coisas que eu como físico não posso aceitar”, frisou, em declarações à Lusa, rejeitando teorias que digam que as estruturas são naturais.

Para Félix Rodrigues, as questões da geologia e da física “estão claríssimas como água” e apontam para construções feitas pelo homem, mas falta estudar arqueologicamente as estruturas para as enquadrar num período histórico.

“Tem semelhanças nítidas com os trabalhos típicos do megalitismo. Não quer dizer com isto que seja forçosamente do neolítico ou do período megalítico, porque há necessidade de datação das estruturas. O que acontece é que as estruturas são inequivocamente construídas e com semelhanças nítidas com outros tipos de construções no norte da Europa”, salientou.

Para o investigador, a possibilidade de aquelas construções serem anteriores ao povoamento português interessa aos Açores e é “fulcral para o entendimento de como é que a Humanidade se movimentou entre a Europa e a América”.

“É uma questão que pode ser extremamente importante, não deve ser desmerecida, não deve ser abandalhada, deve ser estudada com o máximo de cuidado”, frisou, considerando que a confirmar-se a datação pré-histórica não desvaloriza o descobrimento dos Açores pelos portugueses.

No comunicado do Governo Regional, lê-se que o secretário regional Fagundes Duarte “desvalorizou” na audição de hoje “as críticas de que esta questão tenha sido motivo de desmerecimento por parte do departamento competente do executivo açoriano”. Segundo a mesma nota, Fagundes Duarte afirmou que a questão “é delicada e, por isso, vai ser devidamente estudada”.

 

Lusa

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