Já está em andamento a recolha de elementos para que esta tradição possa entrar no Inventário do Património Cultural Imaterial Nacional e, a partir daí, “evoluir para uma candidatura com reconhecimento na UNESCO”, explicou João Carlos Leite, presidente do Movimento dos Romeiros de São Miguel.
O responsável, e três outros representantes desta organização, foram hoje recebidos em audiência pelo presidente do Governo Regional, no Palácio de Santana, em Ponta Delgada.
José Manuel Bolieiro destacou que 2022 marca a “celebração dos 500 anos das romarias quaresmais” e que esse quadro “pode merecer, com apoio do Governo Regional, um momento evocativo e celebrativo, dignificante desse património da ilha de São Miguel”.
O social-democrata sugeriu que a associação se candidatasse ao “quadro regulamentar de apoios da Direção Regional da Cultura, que permite apoios para estas iniciativas”.
Para o chefe do executivo regional é importante construir o caminho “passo a passo, com segurança, e sobretudo excelência”, avançando uma “cronologia que passa por ter como referência o ano de 2022, como celebrativo dos 500 anos”, avançando para “o passo seguinte, um deles de inventariação”.
João Carlos Leite explicou que esse caminho já vem a ser percorrido desde 2018, quando o projeto foi levado a assembleia geral.
Desde então, já estabeleceram contactos com empresas e técnicos, mas “a pandemia veio complicar tudo”.
Contam agora com o apoio de “uma técnica, que fez uma tese de doutoramento sobre os romeiros de São Miguel” e que “está a concluir a recolha do acervo” e com um técnico de audiovisual que está a recolher elementos e testemunhos para incluir nesse espólio.
“Ou, eventualmente, depois desta audiência de hoje, talvez seja mais conveniente não termos pressa, aguardarmos pelas celebrações dos 500 anos, e aí então fazer um trabalho de excelência, que nos permita ser facilmente reconhecidos, também contemplando pareceres e a envolvência de técnicos apropriados nesta área”, admitiu o responsável.
José Manuel Bolieiro destacou ainda a “referência de comunidade, de identidade e de património cultural” que esta tradição representa e, por isso, viu “com apreço” a “preocupação de elevar com recolha científica toda a história das romarias quaresmais em São Miguel”.
Durante a Quaresma, em São Miguel, católicos de várias localidades, organizados em ranchos, percorrem a ilha a pé, ao longo de uma semana, visitando as igrejas e ermidas da ilha, num percurso que serve para cumprimento de promessas ou como jornada de meditação.
Os romeiros trajam um xaile e um lenço tradicionais e levam um terço e um bordão, em que se apoiam durante a caminhada de cânticos e orações.
Tradicionalmente, os ranchos são reservados a homens, mas nos últimos anos tem-se realizado uma romaria feminina, que faz um percurso mais pequeno.
Lusa