“Recebemos denúncias anónimas que não podemos ignorar, mas também um relatório da Divisão de Acção Social de Angra do Heroísmo que levanta diversas questões e já motivou um ofício com recomendações para a ACM”, afirmou Paula Ramos.
As acusações em causa incluem intolerância para com os jovens deficientes, alteração das refeições recomendadas pela dietista e cortes nas verbas que os jovens deficientes recebem do programa ‘Emprego Protegido’, mas também a morte de patos por estrangulamento.
Contactado pela Lusa, Mário Silva, presidente da ACM, negou “todas as acusações”, que prometeu “rebater uma a uma”, acrescentado ter solicitado relatórios internos sobre o que considera serem “insinuações”.
O presidente da ACM frisou que “o desmentido será feito por todos os órgãos sociais da instituição”.
Nas declarações prestadas à Lusa, Paula Ramos confirmou que, “na sequência de uma auditoria à ACM foi elaborado um ofício com recomendações que indicam a necessidade de alterar comportamentos”.
Seguindo a diretora regional, “o documento contém matérias que motivam também o seu envio para a Inspecção Regional do Trabalho e para a Inspecção Regional das Actividades Económicas”.
Paula Ramos disse que “o processo de averiguações será realizado com todo o rigor, para apurar se as denuncias têm fundamento” e, consequentemente, quais as medidas a tomar.
“São tantas as queixas que temos de descascar caso a caso”, afirmou.
Lúcia Ormonde, mãe de um dos jovens deficientes que frequentam a ACM, confirmou à Lusa que o filho “esteve 18 meses sem receber o dinheiro” do programa ‘Emprego Protegido’, alegadamente, por “não querer trabalhar”.
A mãe do jovem rejeitou essa acusação “por não ser esse o feitio do rapaz”.
O programa ‘Emprego Protegido’ é dirigido a jovens com deficiência, aos quais o governo atribui uma verba mensal que completa a pensão até ao máximo do ordenado mínimo nacional.
Gilson Rocha, um dos jovens utentes da ACM, disse à Lusa ter assistido “à matança dos patos” e que os jovens foram “obrigados a comê-los”.
Michele Reis, técnica de Reabilitação e Reinserção Social, defendeu que “o presidente da ACM não promove a integração dos utentes”, acrescentando que “proibiu a saída (dos jovens) da instituição para almoçar fora, devidamente autorizados por escrito pelos pais, por não quererem almoçar o arroz de pato”.
Por seu lado, José Barcelos, monitor na instituição, confirmou à Lusa que “os jovens são obrigados a cortar lenha e a carregar blocos todo o dia”.
A ACM, sediada em Angra do Heroísmo, é uma instituição privada de solidariedade social que acolhe meia centena de jovens com deficiência com quem trabalha para promover a sua integração social.