Responsável pelo Núcleo de Orientação Sustentável, Valdjiu, guitarrista dos Blasted Mechanism, revelou que o núcleo está a trabalhar na criação de uma Ecovila nos Açores, um espaço que funcionará como escola de técnicas de vida sustentável e residência artística.
O que é o Núcleo de Orientação Sustentável?
O Núcleo de Orientação Sustentável é um grupo de pessoas que pretende difundir e alcançar uma consciência que promove um homem novo, que está mais habilitado a sobreviver integrado com o grande espírito da natureza, a Mãe Terra. Actualmente, estamos a desenvolver um conjunto de técnicas, como a permacultura, conceito criado por Bill Mollison, nos anos 70. A permacultura é a forma como nos relacionamos com o meio, é design, e pode ser aplicado à agricultura, de forma sustentável. Os três conceitos principais da permacultura são: o ser produz mais energia do que aquela que consome, a partilha do excedente agrícola, e o respeito integral de todos os seres que habitam o planeta Terra. Três conceitos que parecem simples, mas que são, de facto, complicados, mas possíveis.
Para além da difusão de ideias, que acções em concreto é que estão a ser realizadas?
Uma das nossas intenções é fazer o Núcleo de Orientação Sustentável chegar aos Açores: se houver um grupo de açorianos interessado em semear cá esta nova energia, estamos disponíveis para vir dar formação nesta área, através da realização de workshops de permacultura, no qual se pode desenvolver várias técnicas, nomeadamente a limpeza de água através de plantas, assim como técnicas de agricultura que não cansam a terra e que promovem a biodiversidade. Acredito que a implementação da permacultura nos Açores seria um grande passo em frente. Penso que só os permacultores poderiam resolver o problema de contaminação das lagoas. Nós conhecemos alguns dos melhores permacultores do mundo que, trabalhando em parceria com a Secretaria Regional da Agricultura, podem ajudar a resolver este e outros problemas.
Os Açores têm as condições para que estas ideias de vida sustentável sejam aplicadas sem grande esforço…
Totalmente! O Núcleo de Orientação Sustentável, em parceira com os Blasted Mechanism, está prestes a apresentar um projecto que inclui a cedência de um terreno aqui nos Açores, com o objectivo de criar uma ecovila: um espaço energeticamente sustentável, que irá funcionar como escola de técnicas de vida sustentável e como residência artística. No fundo, o que queremos fazer é juntar sustentabilidade e arte, porque acreditamos que a melhor forma de promover a permacultura é através da arte.
Quando é que este projecto poderá ser uma realidade, e o que falta para que isto aconteça?
Nós já depositamos aqui a semente… Acho que o Governo Regional se apercebeu da nossa mensagem. Não vamos forçar ninguém a fazer nada. Queremos também ter um feedback: as pessoas sabem quem são os Blasted Mechanism, venham agora ao encontro desta energia. Neste momento estamos bastante ocupados, mas vamos apresentar o projecto e queremos mesmo que isto venha a acontecer. A ecovila seria um sítio em que se pode estudar não só permacultura e sustentabilidade, mas também produção de som, produção de imagem, produção artística, artes plásticas, entre outras áreas.
No âmbito do evento de lançamento de “Mind at Large”, o mais recente álbum de Blasted Mechanism, tiveram lugar duas noites de festa na margem da lagoa das Sete Cidades. Ao contrário do que a banda defende, e mesmo depois de, no decorrer do concerto, o vocalista ter apelado para que não fosse deitado lixo no chão, tal não aconteceu. Ficaram tristes?
Mais do que tristes… Nós estivemos a apanhar lixo depois do concerto – os músicos todos -, e felizmente contámos com a ajuda das 160 pessoas que trouxemos do continente, mais alguns (poucos) açorianos. Fomos gozados por algumas pessoas por andar a apanhar lixo do chão, o que nos deixou completamente de rastos… não compreendemos como é que há pessoas que, vivendo numa terra destas, não têm consciência ecológica. Ficámos totalmente desiludidos com isso, felizmente deixámos a lagoa limpa, como tinha sido o nosso compromisso.
João Cordeiro (in Aoriental)
