“Pretendeu-se com este livro fazer uma viagem a preto e branco, não numa perspetiva saudosista, mas de revisão e compreensão através da imagem sobre o viver na ilha de São Miguel, um pouco semelhante às outras ilhas dos Açores, também à ruralidade continental e ao país em que se vivia na altura”, declarou à agência o historiador, falando sobre o livro recentemente editado.
Para o licenciado em História e Mestre em Património e Museologia pela Universidade dos Açores, as 300 imagens reportam um “olhar atento e contemplativo sobre o modo de vida de uma população que era sobretudo agrária”.
O historiador, que sublinhou ser esta população micaelense católica, considerou que o livro contempla uma vertente religiosa através do ciclo anual religioso com as suas festas de verão e inverno, como o Espírito Santo e os santos padroeiros, populares e folias, a par de um ciclo agrário que contempla os trabalhos no campo e a idas ao mar para a pesca.
Registando também vários usos e costumes, como as tradicionais matanças de porco, a obra, segundo o também coordenador da Biblioteca Municipal de Ponta Delgada, permite “viajar no tempo, entrando dentro das casas dos açorianos, observando os seus ambientes”, bem como os espaços de convívio nas portas da rua protagonizados pelas donas de casa e crianças, enquanto os homens se concentravam nas tabernas ou cantos das ruas.
José de Almeida Mello, natural da freguesia da Salga, concelho do Nordeste, considera este livro uma “homenagem às populações da ilha de São Miguel, ao cidadão anónimo”, fazendo-se com que “os rostos destes homens e destas mulheres sejam imortalizados” através das suas 162 páginas, numa edição da Letras Lavadas.
O presidente da associação Mnesis e secretário-geral da Fundação Sousa de Oliveira referiu que este “é um registo para o presente mas também para o futuro”, para que “as gerações vindouras possam compreender como os seus antepassados viviam sem casas de banho, rádio ou internet”.
“O livro é sobretudo a recolha, a salvaguarda e a valorização deste período como memória integrante de um percurso histórico, não se podendo apagar o que foi o viver e sentir desta gente numa determinada conjuntura”, disse o historiador.
O diretor do Núcleo Museológico da antiga Sinagoga de Ponta Delgada recordou que Portugal “viveu durante 50 anos numa ditadura – antes a primeira e a segunda República foram períodos conturbados” -, tendo o país “atravessado alguns momentos de maior crise durante a monarquia”, o que se refletiu nos modos de vida das populações.
Lusa